O jornalista e escritor Paulo Francis (1930-1997) era um homem de grandes tiradas e grandes tiragens. Durante 40 anos, ele foi o nome mais importante da imprensa brasileira. Mesmo quando militei na esquerda, sempre li os textos de Francis com atenção, interesse e prazer. Ao final do meu curso de jornalismo, decidi escrever minha monografia sobre a obra literária de Francis, comparando os seus dois romances de ficção, "Cabeça de Papel" e "Cabeça de Negro", com os artigos publicados no semanário "Pasquim" durante os anos 70.
Não foi fácil arranjar um professor que topasse orientar meu trabalho de conclusão de curso. Serei sempre grato ao Tadeu Felismino por ter aceitado o que outros recusaram. Essa dificuldade tem uma explicação: nenhum professor universitário queria associar seu nome a um autor considerado "direitista" e "reacionário". Aquela rejeição em bloco acendeu uma luzinha amarela na minha consciência. Começava ali, aos 22 anos, o processo que me levaria a abandonar o esquerdismo.
Após a eleição presidencial de 1989, Francis e o jornalista Caio Túlio Costa, então ombudsman da Folha de S. Paulo, tiveram uma violenta polêmica no jornal paulistano. Em determinado momento da polêmica, Francis disse que Caio Túlio era "um quadro do PT" e estava cumprindo uma "tarefa" partidária. Achei um exagero mas não era.
O estopim da polêmica foram as pesadíssimas críticas de Francis ao sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Quase ninguém falava assim de Lula na imprensa da época, e criticar o PT era considerado quase um sacrilégio. Mas o fato é que a reações de Caio Túlio acabaram levando Francis a trocar a Folha de S. Paulo pelo Estadão. Nessa época, lembro bem, esta FOLHA passou a reproduzir as colunas de Francis, às quintas-feiras e domingos. Eu aguardava esses dias ansiedade nem que fosse para passar raiva com as bordoadas que ele dava na esquerda.
Depois que Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República, a "metralhadora giratória" de Francis se voltou contra a Petrobras. Em vários textos, Francis dizia que a estatal petrolífera era um antro de corrupção, desperdício e incompetência. Acabou sendo processado pelo então presidente da Petrobras, Joel Rennó, na justiça americana. Exigiram-lhe uma indenização milionária, exorbitante. Francis ficou abalado; acabou sofrendo um infarto e morrendo em 1997, no auge da carreira.
Mesmo atacando ferozmente o governo FHC, Francis era o jornalista mais odiado pela esquerda brasileira. Hoje sabemos por quê. Ele dizia a verdade, e a dizia com todas as letras. São os mesmos motivos que levam a militância atual a odiar e atacar o filósofo Olavo de Carvalho.
Quando finalmente o Brasil se livrar da organização criminosa, será preciso erguer um monumento a esse herói que não teve medo de dizer a verdade na hora mais difícil: Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, mais conhecido como Paulo Francis.