Quando eu era criança, uma das histórias que mais me impressionaram foi a tragédia no fosso das ariranhas.
Em 21 de agosto de 1977, o sargento Sílvio Delmar Hollenbach passeava com a família no Zoológico de Brasília quando ouviu gritos desesperados. Um garoto de 13 anos havia caído no fosso habitado pelas ariranhas, mamíferos que podem ser ferozes quando se sentem ameaçados. O militar pulou no fosso e conseguiu salvar o menino do ataque das ariranhas, mas acabou sofrendo muitas mordidas. O menino sobreviveu sem sequelas; porém, três dias depois, o sargento Silvio morreu no hospital, com infecção generalizada, aos 33 anos de idade. Em homenagem ao herói daquele dia de agosto, o Zoológico de Brasília passou a se chamar Sílvio Delmar Hollenbach.
Mas a história não terminou ali. Na última sexta-feira, 24 de junho de 2016, a Polícia Federal prendeu Adilson Florêncio da Costa, ex-diretor da Postalis, acusado de integrar um esquema que desviou R$ 90 milhões dos fundos de previdência dos funcionários dos Correios e da Petrobras. Adilson é o menino que o sargento Sílvio salvou 39 anos atrás.
Uma amiga citou há alguns dias uma velha tradição judaica, segundo a qual o tetragrama do nome de Deus YHWH não pode ser reproduzido pelos sons da fala, mas encontra uma expressão perfeita no ato da respiração humana. Trata-se de uma reflexão maravilhosa: a cada vez que respira, o homem diz o nome de Deus! Não é por acaso que a palavra grega Pneuma, que significa "respiração", é também usada pelos cristãos para designar o Espírito Santo.
Na sexta-feira, como vocês sabem, houve outra prisão: a do ex-ministro Paulo Bernardo. Um dos motivos foi o desvio de recursos de empréstimos consignados pela empresa Consist. Não sei se vocês já pararam para pensar no assunto, mas o esquema integrado pelo ex-ministro lesou velhinhos aposentados e funcionários públicos endividados! Se as pessoas honestas que ainda acreditam no PT não entenderam isso, eu não sei o que poderão entender.
Então eu vi a foto de Paulo Bernardo no momento de sua prisão. Sinceramente, fiquei com pena. Sei que a prisão do petista é necessária, mas não posso deixar de me compadecer. Lembremos: mesmo lesando velhinhos e pobres, através da Postalis ou na Consist, o ser humano pronuncia o nome de Deus a cada vez que absorve oxigênio. O mesmo vale para todos aqueles que perpetraram os grandes crimes da humanidade, como o de destruir um país para manter-se no poder. O mesmo vale para quem levou à troca da expressão bíblica "Pelos frutos os conhecereis" por "Pelos furtos os conhecereis".
Durante os últimos 13 anos, uma organização criminosa empurrou o Brasil para o fosso das ariranhas. Agora, para sairmos de lá, precisamos da ação heróica do povo brasileiro e de homens corajosos o suficiente para enfrentar as mandíbulas do mal. Precisamos de novos heróis como Sílvio Hollenbach. Sim, nós ainda respiramos.