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O carteiro e o prefeito

16 jun 2016 às 14:12

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Voltava de ônibus para casa quando vi, na curva da Higienópolis, os grevistas da Sanepar. Pensei comigo mesmo: "No tempo do Dr. Milton, isso não aconteceria". Tem gente que não sabe, mas o prefeito Milton Menezes (1914-1997) foi o responsável por iniciar, nos anos 50, os serviços de água e tratamento de esgoto em Londrina, então administrados pelo município.

Conversando dias atrás com as duas filhas de Milton Menezes, Maria Salete e Ana Rosa, descobri que o ex-prefeito e ex-chefe da Casa Civil do Paraná tinha uma grande amizade com Joaquim Diogo da Silva (1913-2012), o primeiro carteiro de Londrina, conhecido por todos como Seu Nenê. (O apelido de criança pegou tanto que ele próprio só descobriu que se chamava Joaquim quando entrou para a escola!)

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Até a morte de Dr. Milton, os dois velhos amigos se viam quase todos os dias. O que unia dois homens que, a olhos pouco atentos, pareceriam tão diferentes?

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Aristóteles dizia que amigos são aqueles que amam as mesmas coisas.

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Eles amavam Londrina. Seu Nenê chegou em 1934; Dr. Milton, em 1938. Nenê veio para trabalhar como carteiro (na época, estafeta), viajando 160 quilômetros de trem, todos os dias, para entregar correspondências e encomendas aos primeiros londrinenses. Milton havia acabado de se formar pela Faculdade de Direito de São Paulo e veio para caçar macucos, a convite de um amigo. Gostou e ficou para sempre.


Eles amavam a família. Seu Nenê tornou-se arrimo de família aos 12 anos, quando perdeu os pais e ficou responsável pelos seis irmãos mais novos. Casou-se com Eulália sob a condição de que ela o ajudasse a cuidar dos irmãos. Com Eulália, teve quatro filhos. Dr. Milton casou-se com a paulista Salete, que se tornou uma londrinense tão apaixonada quanto o marido. Tiveram aqui três filhos (Gabriel, Maria Salete e Ana Rosa).

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Eles amavam a natureza. Depois de aposentado, Dr. Milton passava a maior parte do tempo em sua chácara nos arredores de Londrina. Seu Nenê adorava contar suas histórias de pescaria, inclusive a do pirarucu de cem quilos que, reza a lenda, teria fisgado certa vez.


Eles eram servidores – na plena acepção da palavra. Viviam para servir aos outros e fazer o bem. Dr. Milton foi um dos nossos melhores prefeitos. Seu Nenê foi o primeiro funcionário público a se aposentar na cidade. Eles serviam a Londrina – e jamais se serviram dela.

Certamente, Dr. Milton e Seu Nenê estão agora tendo uma ótima conversa lá no Céu, enquanto Deus os observa, feliz com as criaturas a que deu vida. Ah, como este cronista gostaria de ouvir a prosa do carteiro e do prefeito!


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