Blog da Bia Moraes

O homem que pensa e cozinha em japonês mas fala português

31 dez 1969 às 21:33

Jornalismo nos leva a fazer coisas superbacanas. Por exemplo: experimentar uma refeição tipicamente japonesa. Não, não é nada daquilo que estamos acostumados a apreciar no menu dos restaurantes japs de Curitiba.

Para fazer uma matéria da seção Gastronomia do jornal, fui a um restaurante pouco conhecido, chamado Lamen House. Lá, o proprietário prepara a comida do jeito que as famílias japonesas comem em casa.


Essa é a entrada que foi servida. Um delicioso guioza (pastel cozido) com legumes e camarão, e bolinhos de arroz totalmente diferentes daqueles de restaurante


Diferente dos sushis e sashimis enfeitados e cheios de invencionices a que estamos acostumados, a base da refeição dos japs é o lamen, um macarrão fininho, servido em caldo de shoyu, com algas e outros ingredientes.



Parece uma sopa, mas não é. Ali dentro tem todos os ingredientes de uma refeição saudável e balanceada.


Se você pensou em Miojo - por causa da palavra lamen - saiba que o macarrãozinho industrializado, que a gente compra baratinho no supermercado e prepara rapidim pra quebrar o galho e matar a fome, é imitação do verdadeiro lamen japonês.


Tanto é que o lamen que Tatsuyo Sodeyama serve é preparado por ele mesmo. Você leu certo: a massa fininha é feita ali mesmo no restaurante, pelo dono/cozinheiro/administrador.


Ele também prepara os molhos, a massa dos pasteizinhos guioza, as conservas (de acelga, pepino e cenoura) e tudo mais que é servido.


Comer e conhecer os alimentos foi a parte boa da reportagem. Difícil foi entrevistar Sodeyama. Ele é uma simpatia. Porém é muuuuito japonês! Eu quase não entendia o que ele falava. E tinha que me esforçar para pronunciar as perguntas de um jeito que ele entendesse. Ele é tão japonês que não abre a boca para pronunciar nossas vogais. Fala tudo com aquele sotaque japs bem forte e engraçado.


Depois de um tempo, percebi que a demora dele em responder a cada pergunta (havia uma pausa de vários segundos entre a minha frase e a dele) era por um motivo óbvio. Mesmo morando no Brasil há dez anos, Sodeyama ainda PENSA em japonês. Ou seja: ele escuta a frase em português, verte para o japs no cérebro japs dele, formula a resposta em japs e então muda para o portuga para falar.


Pensar em japonês, para mim, significa que por mais que ele ame o Brasil como declara, pretenda viver aqui para sempre, e deseje ter filhos nascidos no nosso país, Sodeyama ainda é totalmente ligado na cultura de seu país de origem. O jeito de pensar é japonês. E isso a gente pode ver na comida, na forma como ele se comporta, anda, senta, no jeito que administra o restaurante e como avalia a vida em Curitiba - cidade que ele acha linda, verde e sossegada.


Lá tem um negócio que ADORO:



Esse picolé chamado Melona, bem cremoso e com total gosto de melão. Conheci essa delícia no bairro da Liberdade, em São Paulo.



Aqui em Curitiba tem também no Mercado Municipal e numa lojinha japs no Centro, bem no começo da rua Carlos de Carvalho.


Com certeza voltarei ao Lamen House muitas vezes. Adorei.


Aguardem a reportagem no impresso para saber mais dele, do restaurante e ganhar uma receita bacana.

Arigatô!


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