Programas de vacinação contra o vírus sincicial respiratório (VSR) para idosos com pelo menos 70 anos e com comorbidades que podem piorar o quadro clínico é vantajoso tanto do ponto de vista econômico quanto da saúde pública, aponta um novo estudo publicado nesta segunda-feira (9) no periódico científico Canadian Medical Association Journal.
Leia mais:
Estados brasileiros registram falta ou abastecimento irregular de, ao menos, 12 tipos de vacinas
Leitos de UTI crescem 52% em 10 anos; distribuição é desigual
Saúde do homem é tema de live com médicos londrinenses em novembro
Cinco minutos de atividades físicas ajudam a controlar pressão alta, sugere estudo
As estimativas foram feitas com dados do Canadá. No Brasil, duas vacinas já receberam autorização para uso em pessoas mais velhas. Além desses imunizantes, dois anticorpos monoclonais estão autorizados para prevenção da doença em crianças.
O VSR é um patógeno que pode causar diferentes quadros respiratórios em população de maior risco, como idosos e crianças. Nos pequenos, por exemplo, o vírus é o responsável por cerca de 75% dos casos de bronquiolite, uma infecção nos bronquíolos, que levam o ar aos pulmões.
O estudo buscou entender o custo-benefício da aplicação de vacinas contra VSR naqueles com pelo menos 50 anos no Canadá.
Ashleigh Tuite, gerente de economia e modelagem da saúde do Centro de Vigilância e Programas de Imunização vinculado à Agência de Saúde Pública do Canadá, explica que o país já autorizou a aplicação de vacinas para aqueles acima de 60 anos.
No entanto, existe um pedido, ainda sob análise, para ampliar a vacina para maiores de 50- por isso, essa população também foi incluída na análise.
"Como o risco de doença grave por VSR aumenta com a idade, estávamos interessados em explorar como a relação de custo e eficácia dos programas de vacinação mudou quando oferecidos a diferentes faixas etárias", diz Tuite, que também é um dos autores do artigo.
Além da idade, as estimativas também consideraram comorbidades prévias relatadas pela população analisada. No total, cem mil indivíduos foram incluídos no estudo e acompanhados durante um período de três anos, considerando fatores de risco para desenvolvimento de casos graves e a proteção conferida pelos imunizantes incluídos na análise.
Esses aspectos foram comparados com os gastos envolvidos com programas de vacinação. A pesquisa concluiu que imunizar aqueles com pelo menos 70 anos e que apresentem doenças crônicas prévias é a estratégia mais vantajosa do ponto de vista do custo-benefício.
"Espera-se que adultos mais jovens e aqueles sem condições médicas subjacentes tenham um risco menor de doença grave por VSR e podem se beneficiar menos da vacinação", afirma Tuite.
Mas, em determinadas situações, a vacinação dessas outras faixas etárias pode também ser vantajosa. Um desses casos é se a dose da vacina contar com um valor mais acessível.
Outra circunstância é quando os custos em relação a tratamento de pacientes com VSR são maiores do que a média no contexto canadense. Isso ocorre, por exemplo, com comunidades remotas do norte do país.
Além disso, Tuite reitera que nem tudo é sobre custos. "Aspectos econômicos são apenas um aspecto a ser considerado para programas de vacinação. Outros fatores, como viabilidade e simplicidade da implementação do programa, também precisam ser considerados", afirma.
No Brasil
Duas vacinas já foram aprovadas no Brasil para prevenção de casos de VSR. Uma delas é a Arexvy, recomendada para pessoas com mais de 60 anos. O outro imunizante, Abrysvo, é indicado para indivíduos com mais de 18 anos. Gestantes, mesmo aquelas que ainda não completaram 18 anos, também podem receber o fármaco.
Além das vacinas, existem dois anticorpos monoclonais aprovados contra a infecção no Brasil: o Synagis (palivizumabe) ou o Beyforus (nirsevimabe). O primeiro já está disponível no SUS para bebês com maior risco para formas graves da infecção. O nirsevimabe, também indicado para os pequenos, não está acessível de forma gratuita.
O artigo recém-divulgado não utilizou dados do Brasil, somente do Canadá. Por isso, explica Tuite, não é possível comentar a realidade brasileira em relação a uma possível incorporação de formas de prevenção do VSR para pessoas mais velhas.
O autor, no entanto, reitera que é esperado que "programas com foco em adultos com maior risco de doença grave por VSR, devido à idade avançada e/ou à precedência de condições médicas subjacentes, forneçam um bom valor monetário".