Nunca, antes, fomos tão bombardeados com informações, como da metade do século 20 para cá. O advento da televisão, da conexão virtual, entre outros, fez das últimas décadas o auge do ritmo acelerado das transformações sociais e de valores. Nesse sentido, ao mesmo tempo que somos ''cutucados'' para reformulações cognitivas, afetivas e comportamentais que permitam o acompanhamento dessas mudanças, também podemos nos deparar com a dificuldade de discernimento para tomar uma iniciativa segura diante da avalanche de estímulos.
O epíteto ''novo'' adquiriu, hoje, uma dimensão que atingiu todas as esferas. O ''novo'' padrão de mulher ou de homem, o ''novo'' padrão de criar os filhos, o ''novo'' padrão sexual figuram como exemplos que promoveram mudanças significativas no percurso das pessoas, mas que não podem ser dissociados dos referenciais que os sustentam. É no relacionamento afetivo, com os modelos parentais (pai e/ou mãe), que cada pessoa desenvolve seu papel de filho(a) e vai assimilando o que é ser pai ou mãe. Essa experiência vai ter um peso relevante para que a pessoa se sinta mais à vontade ou inibida para se relacionar com seus filhos.
A história da sexualidade desvinculada de tabus e da função reprodutiva ainda é recente e uma questão que muitos pais encontram dificuldade para lidar com seus filhos. Apesar de homens e mulheres terem conquistado mais liberdade no que se refere às suas sexualidades, o enfrentamento de algumas situações com os filhos acabam sendo vividas com constrangimento. Às perguntas que as crianças fazem ou às curiosidades dos adolescentes, as reações dos pais são coerentes com o que trazem internalizado de suas experiências sexuais.
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Portanto, diante do impacto que uma pergunta ou manifestação de sexualidade dos filhos provoque nos pais, é importante que os progenitores reconheçam que foram tocados em algum ponto frágil. Em seguida, é importante considerar que nenhum pai ou mãe é obrigado a dissertar sobre sexo e muito menos deve sair pela tangente, desconversando.
Se a resposta atender a dúvida do filho ou o orientar para alguma manifestação da sua sexualidade, já é um bom começo. Não há nada que desqualifique um pai ou uma mãe que pede para responder dali a pouco, argumentando sobre o desejo de encontrar uma forma esclarecedora de abordar o tema. E procurar retornar ao assunto antes que este esfrie é um dever. Esses exercícios ajudam os dois lados no desenvolvimento da sexualidade: dos pais, que estão tendo a oportunidade de rever seus pontos frágeis e fortalecê-los, e dos filhos, que estão desabrochando para o assunto e se sentem acolhidos por pais que não se escondem de si mesmos.
Mitos e Verdades
- Verdade: as informações podem ser fartas e cada vez mais velozes, mas na prática é tão somente a experiência que vai, efetivamente, garantir, maior adequação na qualidade das escolhas que fazemos e enriquecer o contato com tudo de precioso que nos cerca.
Margareth Reis é psicóloga clínica e terapeuta sexual do Instituto H. Ellis (SP)