Nas relações amorosas, homens e mulheres estão intimamente ligados a valores tradicionais, como exclusividade e eternidade, apesar da redefinição e pluralidade das práticas afetivas características da modernidade. De acordo com a psicóloga Edilaine Helena Scabello, que estudou os discursos femininos e masculinos em situações de infidelidade conjugal, a fidelidade ainda é muito valorizada.
Em seu mestrado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em Ribeirão Preto, Edilaine explica que as pessoas tendem a absorver novos ideais, mas não superam os tradicionais. Ela entrevistou quatro homens e cinco mulheres que haviam sido traídos por seus parceiros.
Todos os homens entrevistados se separaram das parceiras, enquanto as mulheres permaneceram com os maridos. Segundo ela, esse comportamento pode ser explicado pela divisão presente na sociedade burguesa entre as ''mulheres que seriam para casar e aquelas que não''. Ou seja, os homens consideram que aquelas mulheres que lhes foram infiéis não são dignas de um relacionamento duradouro. Além disso, historicamente, as mulheres, na sociedade ocidental sempre conviveram com a infidelidade de seus maridos e, por isso, elas se adequam a isso.
Leia mais:
Comportamento de risco aumentou infecções sexualmente transmissíveis
Programas focados em abstinência sexual não são eficazes, diz SBP
Evento em Londrina discute vida sexual em relacionamentos longos
Você sabia que colesterol alto pode levar à impotência?
Outro fator específico de discursos femininos é a presença dos sentimentos de culpa e auto-punição. A pesquisadora explica que ocorreu ao longo dos tempos a divisão familiar dos papéis de homens e mulheres, pois aqueles deveriam ser provedores e elas responsáveis pelo cuidado do lar e felicidade do casamento.
Na pesquisa, outro ponto foi observado. Após a perda simbólica do outro, é necessário que exista um período de luto em que a pessoa irá elaborar a perda. Esse processo acarreta a reestruturação psíquica. A partir daí, a pessoa dará novos sentidos àquela experiência.
Nas entrevistas, três comportamentos foram compreendidos. Todos os homens dissolveram o casamento e partiram em busca de outras relações. Três das cinco mulheres também atribuíram novos significados àquela situação, reconstruindo o casamento. No entanto, duas mulheres não elaboraram o luto, permanecendo aprisionadas à dor e ao ressentimento.
A psicóloga compreendeu que as mulheres que não elaboraram a perda possuíam grande sentimento de culpa e negação da realidade, pois a traição implica na dissolução da imagem do parceiro. Por esses motivos, a elaboração do luto pode ser demorada ou até mesmo não efetivada. Desta forma, a mulher permanece imersa no ressentimento, representando a impossibilidade de esquecer ou superar aquele acontecimento e a situação desencadeada por ele.
Mariana De Felice, Agência USP