Com a chegada do primeiro filho, mudam-se os interesses, hábitos, horários, produtos de consumo dos pais, a rotina da casa etc. O filho detém primazia: sua saúde, educação, bem-estar e seu futuro. As preocupações são inevitáveis. Como dar conta de todas as demandas? Os pais se dividem, se distanciam, se desencontram, porém mantêm-se firmes no objetivo de dar o melhor aos filhos, que crescem e vão se tornando independentes.
Na adolescência já não demandam que lhes faça o prato, arrumem suas malas, os levem à escola, verifiquem as tarefas de casa, entre outras coisas. A casa é sempre cheia, o telefone não para de tocar, uma verdadeira bagunça, muitas vezes adorável, em outras mais que indesejável.
Vêm as baladas, viagens com os amigos, as mães andam de um lado para outro, rezam muito para que seus rebentos voltem seguros, e o alívio só chega com o barulho da fechadura.
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Os filhos, progressivamente, vão se despedindo, seguem suas vidas. Não raro, nesse período, os pais já dão os primeiros sinais de tristeza, sentimento de solidão, abandono e rejeição. Com a casa vazia, sentem-se como num naufrágio, o que fazer agora? Esses sintomas caracterizam a Síndrome do Ninho Vazio.
O casal já nem se conhece mais, distanciaram-se tanto, são quase dois estranhos vivendo sob o mesmo teto, e se esse momento coincide com a aposentadoria de um deles, com o climatério da mãe - cujos sentimentos de inutilidade, falta de objetivos e planejamento para o futuro estão mais aflorados -, a situação será mais dolorosa e a superação mais difícil, podendo levar a um quadro depressivo e até à separação do casal.
Existem mulheres que exercem o duplo papel, abandonam sonhos, expectativas, dedicam-se inteiramente aos filhos. Esta mãe pode desenvolver depressão mais acentuada se não reinvestir em si mesma e buscar atividades que viabilizem seu bem-estar físico, emocional e psicológico. O casal pode investir numa reaproximação, no restabelecimento de uma vida afetiva e prazerosa, na reintegração social, viagens e passeios. Em todos os casos, o apoio psicológico pode ter efeitos substanciais para a prevenção e o enfrentamento da crise.
Existem casais que primam por uma educação que valoriza a independência, tanto dos filhos como de si próprios. Preservam uma relação de afinidade, troca afetiva, companheirismo, cumplicidade e cuidados mútuos.
Outros investem numa segunda lua de mel; mulheres que estavam só refazem suas vidas diversamente, remanejando um novo esquema familiar, alicerçados no afeto genuíno entre pais, filhos e com a família que estes construíram.
De qualquer modo a Síndrome do Ninho Vazio é marcada por um momento de grande mudança. Apesar das diferentes condições, essa crise terá um fim. É uma oportunidade de reflexão, reajustes, reconstrução, superações e desenvolvimento pessoal, familiar e conjugal. Que pode ser enfrentada e superada satisfatoriamente, com menos dor e mais realizações.
Anaí Licia Couto - Psicóloga / Psicanalista