Tudo o que sentimos é verdadeiro, pois não há verdades absolutas e sim a verdade de cada um. Sendo assim, quando alguém diz que se apaixonou à primeira vista, esta pessoa está dizendo a verdade. Se este amor vai ser duradouro ou não, é outra questão. Vinícius de Moraes dizia ''que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure''.
No amor à primeira vista, há sempre uma projeção do homem ou mulher idealizados internamente sobre a pessoa, objeto do amor. Existe um mundo de fantasias projetados na pessoa e a cegueira com relação a como ela é vista pelos outros. Tanto que os outros perguntam: o que foi que ela viu, que eu não vi? Esta pergunta nos mostra que não é a pessoa (estímulo externo) que provoca o amor e sim como a pessoa que se apaixona vê o objeto de seu amor. Se fosse o estímulo externo (pessoa) que provocasse o amor, todos se apaixonariam pela mesma pessoa.
'Pathos' quer dizer, ao mesmo tempo, paixão e doença. Estar apaixonado é estar num estado diferente do convencional. A pessoa apaixonada se perde em fantasias, sonha com um mundo encantado, em que o principal personagem é o objeto de seu amor e este é perfeito dentro de suas fantasias.
Mas o que faz com que o amor perdure? Não é a beleza externa do objeto amado nem as fantasias projetadas, pois à medida que entramos em contato com o objeto do nosso amor, as fantasias vão sendo substituídas pelo conhecimento que passamos a ter do outro. Neste momento, o outro pode virar ''sapo'' como nos contos de fada ou virar ''humano'', isto é, uma pessoa com defeitos e qualidades, que deve ser amado como é.
Quando isso ocorre, deixa de ser paixão e pode se tornar um amor verdadeiro. O que faz este amor perdurar é o conhecimento do mundo interno do outro, que ocorre por meio da conversa. ''A fala penetra o ouvido do outro, preenchendo os vazios da alma''. Como nos contos das mil e uma noites, em que Xerazade fez o Sultão amá-la através de sua fala, seus contos, seu mundo interno. Só o sopro suave da fala faz a chama do amor se acender de novo, pois o vento impetuoso da paixão pode apagá-la.
O amor, para durar, deve ser sempre incondicional. Devemos amar a pessoa como ela se apresenta. O amor não deve ser baseado em trocas, pois não é um comércio, e sim, pulsão investida.
Todo amor, no fundo, é uma experiência do sagrado. É o dom supremo segundo a Bíblia; o começo de tudo e a essência da vida. Aliás, esta não existiria se não houvesse o amor. Pois o homem e a mulher, se amando, dão início a uma nova vida, que se desenvolverá, bem ou mal, dependendo do amor dedicado a este. Só o amor fará com que este homem e esta mulher se sacrifiquem em prol de seu produto (filho). Só assim a espécie perdurará.
Existem vários tipos de amor: o amor Filo (fraternal, amizade entre duas pessoas), o amor ágape (que inspira cuidar do outro, ter compaixão), o amor sexual (amor homem-mulher, que envolve desejo) e o amor Éros (impulso biológico para a procriação).
Estamos nos referindo ao amor sexual e também ao Éros, embora os outros tipos de amor também estejam presentes entre um homem e uma mulher.
Mitos e Verdades
- Verdade: o amor à primeira vista é fruto da projeção de nossas fantasias, somado a reações corporais. Pode acabar rapidamente, mas pode se transformar em amor duradouro, incondicional
- Mito: a beleza por si só produz amor à primeira vista
Denise Hernandes Tinoco, mestre e doutora em Psicologia Clínica, docente e psicoterapeuta clínica