O Instituto Nacional de Câncer (Inca) tem um papel inquestionável para a saúde dos brasileiros, mas está cometendo um grande engano quando desaconselha os exames de toque retal e dosagem de antígeno prostático específico para homens assintomáticos.
Realmente não há evidências científicas de que o rastreamento de toda a população masculina reduza a mortalidade causada pela doença, mas há várias pesquisas demonstrando uma melhora na qualidade de vida dos portadores de câncer de próstata tratados versus os não tratados (menos sintomas urinários, menos dores, maior capacidade de desempenho de suas funções e menos sofrimento psicológico).
A falta de evidências quanto à maior sobrevida pode ter duas explicações: que realmente não existam diferenças estatísticas ou apenas que as pesquisas realizadas até o momento foram mal realizadas, com número de homens e metodologia científica que limitam as conclusões.
Existem dois grandes estudos populacionais, em que homens assintomáticos estão sendo acompanhados por no mínimo 15 anos para avaliar o benefício do rastreamento populacional; os estudos serão concluídos até 2012, e com a publicação deles teremos as conclusões precisas.
Dois outros aspectos levantados pelo Inca precisam ser discutidos: as sequelas dos tratamentos e a definição dos casos que são agressivos. Os métodos existentes não nos permitem exatamente definir em quais casos a progressão será lenta, então devemos tratá-los para não correr o risco de um desfecho para a morte.
O tratamento tem efeitos colaterais, principalmente incontinência urinária e disfunção erétil. Porém cabe aos médicos e pesquisadores melhorar continuamente nossas técnicas e não deixar de diagnosticar e tratar o câncer. A presença dessas alterações varia conforme a idade, o tipo de tratamento e é menor nos casos mais precoces, quando os tratamentos podem ser menos agressivos, sendo, assim, mais um item favorável ao exame preventivo.
Há décadas os médicos urologistas vêm trabalhando para a diminuição do preconceito dos homens de realizar o exame preventivo. O Ministério da Saúde somente agora está organizando o Programa de Atenção à Saúde Masculina. Uma informação precipitada como essa do Inca pode desencadear um grande retrocesso para a saúde dos homens.
Sílvio Henrique Maia de Almeida, urologista