A repressão sexual é tão antiga quanto a vida humana, mas o estudo do seu sentido, de suas variações no tempo e no espaço é um estudo relativamente novo.
Marilena Chauí, em seu livro ''Repressão Sexual'', considera que a repressão sexual será tanto mais eficaz quanto mais conseguir ocultar, dissimular e disfarçar o caráter sexual daquilo que está sendo reprimido. E que a repressão sexual se liga a um conjunto de valores, regras estabelecidas histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade, pois, como inúmeras expressões sugerem, o sexo é encarado como uma torrente impetuosa e cheia de perigos.
A sexualidade se faz presente em todas as etapas do desenvolvimento humano, embora se trate de uma questão quase sempre silenciada. Por um lado é fonte de prazer, e por outro, o alvo predileto para ataques e censuras de toda ordem. Freud já defendia a idéia de que os seres humanos nascem com impulso vital para a busca do prazer, o que ele denominou de libido.
A repressão sexual impede a liberação da fantasia erótica, um fator muito importante para o orgasmo feminino. Freud já falava da imensa dificuldade do ser humano de integrar a sexualidade ao resto da vida. Ele acreditava que muitos sofrimentos neuróticos eram causados pela repressão sexual.
Durante séculos, a sensualidade e a sexualidade foram alvos de severa repressão, passando-se a imagem de que o corpo é a fonte do pecado. Com isso, inúmeras gerações tiveram cortadas suas possibilidades de obtenção de prazer através do corpo.
A sexualidade feminina por longo tempo permaneceu na procriação e manutenção da espécie. O objetivo da relação sexual era a reprodução. O mesmo não era aplicado ao homem. Este podia satisfazer seus desejos e fantasias com outras mulheres. A sociedade não o condenava por isso.
Para a mulher, o prazer sexual é uma conquista muito recente. Antes da liberação sexual, que começou nos anos 60, a mulher que demonstrasse desejo sexual era tida como doente.
Para as mulheres deste milênio, dependendo do seu grau de cultura e do seu acesso a informações, o orgasmo feminino passou a ser levado em conta. Quase que cobrado. A mulher anorgásmica (que não consegue ter orgasmo) já se permite procurar tratamento. Muitas já conseguem falar sobre esta dificuldade com o parceiro. O passado preconceituoso aos poucos está se transformando, embora lentamente, pois a repressão sexual ainda vigora de forma significativa até mesmo em centros vistos como intelectualizados.
Atualmente, tem-se uma visão um pouco mais positiva da sensualidade e da sexualidade, segundo a qual seu exercício não traz em si nada de vergonhoso, sujo ou pecaminoso. Hoje a mulher já corre em busca de uma imagem poderosa e sensual, como forma de expressão da sua liberdade.
Marilandes R. Braga, psicóloga e terapeuta sexual