Tenho estudado a relação dos jovens com o outro desde 1990, pois chama a atenção a busca imediata de satisfação sem a formação de vínculos, tão desejada e sonhada pelas gerações mais antigas.
A partir da Segunda Guerra Mundial, por faltarem homens no mercado de trabalho, as mulheres foram altamente estimuladas a assumir profissões e funções que antes cabiam ao sexo oposto. Com isso, os papéis na família mudaram.
A mulher, com dupla jornada de trabalho, sem tempo para cuidar dos filhos, passou a colocá-los em creches com poucas pessoas para cuidar e muitas vezes despreparadas para tal função. Em outros casos, passou a deixar as crianças com babás, que muitas vezes pediam a conta com muita rapidez, sem grandes compromissos. Isto fez com que os filhos muito cedo vivenciassem situações de perda, de falta de vínculo, levando-os a sentir insegurança e medo de se vincular, pois isso acarretava em sofrimento, luto que o bebê precisava fazer ainda sem grandes recursos internos.
Com estas experiências, o bebê que estava formando sua personalidade acabou por desenvolver meios internos para se defender das perdas, evitando formar vínculos, vivendo suas experiências momentâneas, principalmente a partir da adolescência, quando é feita a reedição das fases vividas na infância, buscando sensações de prazer sem compromisso.
Desta forma, os jovens passaram a repetir, sem perceber, suas primeiras experiências, só que agora sem a dor da perda. Só que à medida que se evita a dor, evita-se também a formação de vínculos, as relações duradouras que constroem, que dão segurança e promovem a continuidade salutar da espécie. Precisamos aprender a conviver com as perdas, pois fazem parte da vida, mas sem perder a capacidade de amar, de sonhar e construir um futuro.
A solidão vivenciada pelas pessoas que só buscam prazer imediato e evitam a dor está ligada à pulsão de morte, levando a espécie a relações superficiais, movidas a interesses, condicionais, muitas vezes doentias, psicopáticas, pois o igual deixa de ser olhado com respeito, empatia, para se tornar objeto de uso, descartável. Uma sociedade assim está fadada à destruição.
Mitos e Verdades
- Mito: o bebê pode crescer sem cuidados maternos, isso não leva a prejuízos emocionais
- Verdade: a família é de suma importância e cuidados maternos são fundamentais para o bom desenvolvimento do ser
Denise Hernandes Tinoco, doutora em Psicologia, psicoterapeuta e professora universitária