Sexualidade

Por que algumas pessoas sentem prazer com a dor?

24 mai 2010 às 19:16

A psicanálise estende a noção de sadomasoquismo para além da perversão descrita pelos sexólogos, reconhecendo-lhe numerosas manifestações mais encobertas, fazendo deste um dos grandes componentes da vida pulsional.

A atuação sadomasoquista é derivada de um ponto de fixação da libido na fase anal, período no qual a criança busca dissolver sua relação simbiótica com a mãe, própria do 1º ano de vida. Entrando em seu 2º ano de existência, ela quer assumir a si mesma, buscando muitas vezes o confronto com os pais. A criança procura fazer o contrário do que mandam para se auto-afirmar, é a busca da separação entre o que é dela e o que é do outro. Neste período, a criança está aprendendo também o controle dos esfíncteres.


Se os pais têm dificuldade de entender e respeitar as necessidades da criança (amando e colocando limites nos momentos certos) e se tornam intransigentes, agredindo e humilhando a criança ''para ensinar ou pôr limites'', a criança acaba associando internamente amor com dor, pois as mesmas pessoas que cuidam e dão carinho são violentas e agressoras. Este registro interno faz com que procurem na vida, como objeto de amor, pessoas que reproduzem esta relação primeira, matriz do sadomasoquismo.


Com este ponto de fixação da libido, derivado da má elaboração da fase anal, esta pessoa poderá estabelecer relações dolorosas ao longo da vida, causando sofrimento, ou promovendo-o no ambiente de trabalho, entre amigos, no casamento, com os filhos, enfim, nas diversas situações do cotidiano.


Entendemos então que os maltratos vão além da perversão sexual, estendendo-se para o dia-a-dia, dando sensação de poder, confundindo amor com dor. Muitas pessoas vivem assim. Estão no inferno e nem percebem, banalizando o sofrimento.


Mitos e verdades


- Mito: o sadomasoquismo é um sintoma ligado somente ao ato sexual


- Verdade: o sadomasoquismo é um sintoma que pode ser encontrado nas diversas relações do cotidiano das pessoas

Denise Hernandes Tinoco, doutora em Psicologia Clínica, psicoterapeuta com formação psicanalítica e docente universitária


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