Sexualidade

Pesquisa lança dúvidas sobre existência de vício em sexo

14 ago 2013 às 18:09

Nos últimos anos, celebridades como o ator Michael Douglas e o golfista Tiger Woods têm atribuído o fato de terem sido infiéis no casamento a um suposto vício em sexo e afirmaram ter participado de terapias específicas para superar a condição.

Mas será que realmente podemos nos viciar em sexo, assim como acontence com drogas, como a cocaína?


Para responder a essa pergunta, pesquisadores da Universidade da Califórnia-Los Angeles (UCLA) conduziram um estudo que buscava determinar se o cérebro das pessoas que sofrem de hipersexualidade – descrita como uma tendência exagerada se interessar ou se envolver em práticas sexuais – reage da mesma forma que o dos viciados em relação às drogas.


Não existe consenso na comunidade científica mundial sobre se a hipersexualidade pode ser considerada um vício ou se a questão é relacionada a um problema de comportamento e falta de controle.


Para jogar ainda mais lenha na fogueira, na última edição da chamada "bíblia da psiquiatria", o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disordersou DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em tradução livre), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, os vícios sexuais foram deixados de fora.


Mas, ao analisar as respostas cerebrais de pessoas que têm problemas para se controlar diante de imagens sexuais, os pesquisadores da UCLA concluíram que o comportamento destes indivíduos tem mais a ver com traços da personalidade – como uma tendência a serem mais compulsivos - do que com um vício.


Resposta cerebral


"É incrível como se estendeu o uso do termo 'vício sexual', sobretudo nos EUA, sem nenhuma base científica", disse à BBC Nicole Prause, uma das autoras da pesquisa.


"Em nosso estudo esperávamos encontrar uma relação entre hipersexualidade e a resposta do cérebro às imagens de sexo, mas não a identificamos".


Na investigação feita por Prause e sua equipe foram analisados 52 voluntários (39 homens e 13 mulheres), com idades entre 18 e 39 anos, que disseram ter problemas para se controlar diante de imagens sexuais.


Num primeiro momento, os participantes responderam vários questionários sobre diversos temas relacionados à sexualidade. Os resultados dos voluntários eram muito similares aos daqueles que buscam ajuda médica por um suposto vício em sexo.


Depois, a resposta cerebral dos participantes foi medida enquanto lhes eram mostradas uma série de fotografias escolhidas para evocar tanto sensações agradáveis quanto desagradáveis, que incluíam imagens de corpos desmembrados, pessoas cozinhando ou esquiando e, claro, cenas de sexo explícito.


Reposta P300


Os pesquisadores estavam interessados no que é denominada "resposta P300", que é a resposta do cérebro nos 300 milisegundos depois que uma pessoa vê uma imagem.


Esta unidade de medida, que vem sendo utilizada em muitos estudos internacionais sobre vício e impulsividade, é maior quando uma pessoa vê algo novo ou de especial interesse a ela, como quando um viciado em cocaína vê imagens da droga.


Os cientistas esperavam que, quando vissem imagens sexuais, os participantes que sofriam de hipersexualidade tenderiam a ter respostas P300 mais elevadas.


Mas não foi o que aconteceu. A conclusão foi que a resposta do P300 foi semelhante ao de pessoas que simplesmente tem uma libido mais elevada, que é um traço de personalidade, não ao de pessoas que tem um vício.


"Claramente existem pessoas que têm problemas para controlar certos tipos de comportamentos sexuais e consomem mais pornografia do que o habitual", afirma Nicole Prause.


"Mas isso se deve ao fato dessas pessoas serem compulsivas. (Elas) acumulam ansiedade até o momento em que praticam o sexo, mas isso não é uma busca pelo prazer (sexual), mas sim uma liberação dessa tensão acumulada", conclui a especialista.

Os pesquisadores da UCLA acreditam que as conclusões do estudo podem agora colocar em xeque as atuais teorias que sustentam a existência de vícios sexuais.


Continue lendo