O momento de intimidade a dois inclui, inevitavelmente, um antes e um depois, tão importantes quanto a própria entrega sexual. Tudo que se experimenta no presente pode tornar a próxima vez ainda melhor. Ou pior. Após atingir o orgasmo, o homem retorna ao estado de não excitação mais rapidamente que a mulher. Essa diferença pode levar a mulher a querer prolongar o seu prazer depois do clímax sexual, com carícias e palavras, quando seu parceiro já deu por encerrada qualquer comunicação adicional.
O ato sexual é um ponto de alta relevância numa relação amorosa, no entanto, está inserido numa situação mais abrangente que não o esgota em si mesmo. Às vezes, a excitação da mulher continua após o gozo com o parceiro, mas ela pode se sentir constrangida diante disso, fechando-se. Se ela conduzisse o parceiro a carícias que prolongassem as sensações eróticas, ele certamente proporcionaria mais prazer a ela, podendo também voltar a se excitar para uma segunda vez ou ficar feliz em deixá-la satisfeita.
Em outros casos, a mulher pode ter dificuldade de atingir o orgasmo durante a penetração e não sabe como demonstrar a insatisfação. Desde as que tentam compensar com a masturbação, depois do sexo, como as que tentam estender o ato sexual depois de terem fingido um orgasmo e se frustram. Falta, em geral, a expressão mais clara daquilo que se deseja. A entrega sem censura, sem dramaticidade e cobrança no momento íntimo representa o tempero imprescindível para o prazer a dois. A relação ideal pressupõe a interrupção da exploração sexual quando os dois se dão por satisfeitos.
Quando a sensualidade do casal promove gratificação, ambos conseguem trocar energia positiva, ficam à vontade depois do ato sexual para fazer um agrado no outro sem cobrança. As recriminações que se dirigem à fase imediatamente depois do sexo revelam desencontros amorosos mais abrangentes não resolvidos, sejam dificuldades da mulher em lidar com a sua satisfação sexual como aquelas que experimentam alguns homens que tratam de concluir o ato sexual o mais rápido possível para evitar um aprofundamento na relação. Esses casos revelam pesos pessoais que interferem na satisfação mútua e transformam um momento que deveria ser de leveza em desassossego de uma ou das duas partes envolvidas. Porém, para o casal que experimenta satisfação no ato sexual, nem aquele cochilo pós-orgasmo nem picuinhas da vida a dois costumam se transformar em obstáculos nesse momento.
Margareth Reis é psicóloga clínica e terapeuta sexual do Instituto H. Ellis (SP)