Com o avanço da medicina reprodutiva e da tecnologia, os médicos voltados a esta especialidade têm buscado cada vez mais soluções eficazes para o tratamento de casais que encontram dificuldades para gerar seu bebê. Embora novas possibilidades surjam diariamente, ainda existem muitas dúvidas sobre o tema fertilidade. E essas incertezas impedem muitos casais de realizarem o sonho de terem um filho. O ginecologista Renato de Oliveira, esclarece os principais duvidas.
Quais as principais causas da infertilidade?
As causas da infertilidade são divididas democraticamente. Em 30% dos casais avaliados, identificam-se fatores exclusivamente femininos. Mesmo valor encontrado tanto para a identificação de fatores exclusivamente masculinos quanto para a identificação de uma causa em ambos. Nos 10% restantes, não se encontra um fator preponderante que justifique a infertilidade. Isto se denomina infertilidade sem causa aparente. Deve-se destacar que não significa que não há uma causa, mas que não foi possível reconhecer o fator de infertilidade com os métodos utilizados ou disponíveis na atualidade.
Quando um casal é considerado infértil?
Podemos dizer que a ausência de gravidez após um ano de tentativas frequentes sem o uso de métodos anticoncepcionais caracteriza a infertilidade. Se há uma causa conhecida ou se a mulher possui mais de 35 anos, a procura de um especialista a fim de diagnosticar infertilidade não deve esperar um ano.
Quando o casal deve procurar tratamento para ter filhos?
Após um ano de vida sexual sem contracepção e sem obter uma gestação ou após dois abortos consecutivos. Além disso, há uma recomendação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva que a mulher com mais de 35 anos deve procurar um especialista após 6 meses de tentativas sem sucesso e, após os 40 anos, procura imediata assim que desejo de gravidez. Caso tenha outra suspeita de dificuldade para engravidar em qualquer idade, a procura de avaliação também é indicada.
A fertilidade diminui com a idade?
Sim. Há uma queda da fertilidade com a idade. Sabemos que por volta dos 35 anos, 16% dos casais possuem dificuldade em engravidar. Este valor aumenta até os 37 anos e a queda da fertilidade é mais acentuada até, aproximadamente, 43 anos. Após esta idade, dentre as pacientes inférteis submetidas aos tratamentos mais sofisticados, como a fertilização in vitro, apenas ao redor de 5% alcançarão uma gravidez.
Quais são as maiores causas da infertilidade masculina e feminina?
A principal causa de infertilidade masculina é desconhecida (chamada de idiopática). Porém, destaca-se a varicocele, fatores obstrutivos, genéticos ambientais com a drogadição e uso de anabolizantes. A mulher tem como principais causas de infertilidade a endometriose, alterações tubárias, distúrbios da ovulação, destacando a síndrome dos ovários policísticos, alterações uterinas, dentre outras.
Há fatores que aumentam o risco de infertilidade feminina? E a masculina?
Sem dúvida. No caso da mulher, o fato de deixar para engravidar mais tarde, a obesidade ou o baixo peso, a exposição a doenças sexualmente transmissíveis e o tabagismo são exemplos claros de situações que aumentam o risco de infertilidade e que devem ser evitados. Outra situação é a exposição aos tratamentos oncológicos como a quimioterapia ou radioterapia. Nestes casos, dependendo do processo utilizado, há prejuízo da reserva ovariana e alto risco de infertilidade. Por isso estas pacientes devem sempre serem orientadas quanto à preservação de fertilidade.
No caso dos homens, há os fatores relacionados à exposição a substâncias tóxicas. Dentre os exemplos mais comuns, temos os medicamentos usados em quimioterapia, a radiação ionizante, o calor ou os hormônios exógenos. Além disso, infecções que levam à inflamação dos testículos também podem estar envolvidas.
Como a idade interfere na fertilidade do homem?
A idade interfere na fertilidade do homem, mas de maneira muito menos incisiva do que na mulher. Há trabalhos que mostram uma redução na concentração e na mortalidade dos espermatozóides. Outros, um aumento de problemas genéticos com a idade. No entanto, a queda da fertilidade masculina inicia-se, em média, dez anos mais tardiamente que nas mulheres.
Nos casos em que a mulher foi diagnosticada com endometriose, qual a possibilidade de engravidar naturalmente?
A endometriose é uma doença estrogênio dependente, proliferativa, crônica, recidivante, caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. Sua associação com a infertilidade está bem estabelecida. Porém, o entendimento do seu exato mecanismo de ação ainda não é completamente conhecido. Assim, há uma possibilidade de gravidez espontânea em algumas pacientes independente do grau da doença, mas dependente do tamanho do comprometimento dos órgãos pélvicos. Sabe-se que ocorre um aumento da taxa de gravidez espontânea em 50% nos primeiros seis meses após a cirurgia. A decisão de operar depende de outros fatores que devem ser individualizados e discutidos com um especialista.
Problemas de fertilidade são hereditários entre as mulheres?
Depende do problema. Sabe-se que há um componente familiar em doenças como miomas, endometriose e falência ovariana prematura (menopausa precoce). Já os homens podem ter alterações genéticas que levam a redução da qualidade do sêmen. Outra situação rara, mas importante, é quando há ausência dos ductos deferentes bilaterais (canais que transportam os espermatozóides do testículo para o ducto ejaculatório). Este problema está relacionado a uma mutação do gene da fibrose cística, doença grave que deve ser avaliada.
Qual a idade mais indicada para a mulher engravidar?
A mulher está suscetível à gravidez a partir da sua primeira menstruação. Mas vale destacar fatores importantes em cada fase da vida. A maior vantagem em engravidar aos 20 e poucos anos diz respeito à saúde. Isto porque os riscos de doenças como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia são menores nesta fase. Por volta dos 30 anos, é o período que a maioria das pacientes por questões profissionais e sociais escolhe para engravidar.
A estabilidade financeira e emocional faz com que a mulher aproveite e curta muito mais a maternidade, influenciando o bem-estar, tanto dela quanto do bebê. A partir dos 35 anos, os obstetras já consideram a gestação de risco e ainda alertam para a queda progressiva da fertilidade feminina.