A habilidade de lidar com estímulos estressantes depende da personalidade de cada um e dos mecanismos de defesa. A infertilidade pode desencadear uma crise emocional fora do comum. Alguns estudos demonstram graus de ansiedade e depressão semelhantes aos de pacientes com Aids ou câncer.
O primeiro instinto humano é sobreviver, o segundo é reproduzir e procriar. A garantia do poder de reprodução é um elemento básico da auto-imagem do indivíduo. A perda do controle do poder reprodutivo é um ataque frontal à imagem do corpo, ao narcisismo e desencadeia a crise pessoal da infertilidade. Sentimentos de culpa, agressividade, inferioridade e passividade podem surgir.
Alguns casais confundem infertilidade com virilidade ou feminilidade. Tudo isto pode influenciar não só a vida social, o convívio familiar e profissional, mas também a sexualidade.
Muitas vezes a rotina de exames laboratoriais, as ultrassonografias, as relações sexuais programadas conforme o dia da ovulação contribuem para diminuição da espontaneidade e satisfação sexual.
Um estudo interessante apresentado na revista Fertility and Sterility, conduzido por Ramezanzadeh, demonstrou até 45% de redução do desejo e da satisfação sexual após o diagnóstico de infertilidade. Quanto maior o tempo de espera por uma criança, quanto mais longo o tratamento, maior a insatisfação sexual.
Estas são repercussões da infertilidade sobre a sexualidade, não do tratamento de reprodução assistida em si. Este, por sua vez, teoricamente pode acentuar a separação sexual entre homem e mulher e a fantasia do corpo como máquina.
Por outro lado, a fertilização in vitro é o método mais eficaz de tratamento da infertilidade, para alguns casais, o único. Sendo o mais eficiente pode trazer a alegria que estes casais tanto almejam e restabelecer o bem estar emocional em curto tempo.
Obviamente que muitos casais sabem lidar com o estresse e não têm sua vida afetiva e sexual afetadas. Tudo vai depender do grau de compreensão mútua, de como estava o relacionamento antes do diagnóstico e do poder de reação de cada um.
Quando a sexualidade é afetada, ou a crise emocional estiver presente, deve-se recorrer à psicoterapia ou ainda a outras formas de terapias relaxantes alternativas. A interrupção transitória do tratamento, pode às vezes ser necessária.
Hilton José Pereira Cardim - ginecologista especialista em obstetrícia e reprodução humana