Nas fases iniciais do desenvolvimento o bebê não se sente o centro do mundo, na sua mente ele ''é'' o próprio mundo, juntamente com a mãe, a quem se encontra simbioticamente ligado. É provável que quando descobre que ele e a mãe são seres separados se faça sentir a primeira ferida narcísica.
A criança cresce e vai sofrendo novas perdas, na medida em que descobre que nem tudo é como deseja. Esta descoberta é fundamental e representa um maior contato com a realidade, um crescimento físico e emocional, mas significa que boa parte das ilusões vai se desmanchando. A criança vai descobrindo que existem outros fatores tão importantes quanto ela; percebe que o mundo não gira ao seu redor, e isso é saudável.
No narcisismo patológico, a criança teve durante sua história um excesso de frustrações ou de gratificações. Com isso, a criança liga-se mais profundamente a um de seus pais; o menino liga-se à mãe e exclui o pai. No caso da filhas, elas sentem-se mais importantes para seu pai do que sua mãe. Quando esta criança se torna adulta, este sentimento de total importância persiste e o adulto é capaz de passar a vida inteira buscando as emoções do amor, envolvido num jogo de seduções, paixões e sofrimentos. O colorido de seus romances têm uma boa dose de adrenalina e prazer em viver histórias que se parecem com o ritmo de uma montanha-russa.
O narcisista patológico tem uma necessidade de se engrandecer. Olha para o mundo de um nível superior, acha que é melhor que as pessoas, muda constantemente de objetos de amor. Sua insegurança o torna tão voraz que não há alimento que o baste. Passa pela vida insistindo em conferir a sua habilidade em despertar amor. Suas conquistas são atraentes no início porque representam um desafio, mas depois perdem a graça.
Nos homens, aparece na forma do ''Don Juan'', pessoas ávidas por seduzir sempre, mas incapazes de nutrir e manter um único relacionamento com amor. O movimento que fazem é para evitar a perda, já que isso repetiria mais uma frustração que ele vivenciou na infância. Ele procura terminar as relações antes que o façam.
O parceiro do narcisista, quando cai em si, sente-se cansado, percebe que sempre se dá muito mais do que recebe, e aquilo que se dá cai no vazio e fica inutilizado.
Já o narcisismo saudável desenvolve um razoável grau de auto-estima, proporciona alegria verdadeira pelas realizações, sente e desperta afeto com tranquilidade. O indivíduo sente-se livre e disponível para dar o melhor de si e receber o que os outros têm de bom para oferecer.
As pessoas podem buscar o autoconhecimento como forma de se integrar e chegar a um quadro mais saudável.
Mitos e Verdades
- Mito: a pessoa que tem traços narcisistas sempre apresentará uma patologia
- Verdade: a distribuição equilibrada da energia narcísica mostra-se na capacidade de dar e receber afeto
Margareth Alves, psicóloga e terapeuta de família