Sexualidade

Fantasia e imaginação: alimentos para o desejo

11 ago 2009 às 22:17

As fantasias pertencem ao mundo da imaginação e podem mexer com os sentidos (auditivo, olfativo, visual, tátil), independente da presença física de um dado estímulo.

A força e a qualidade da fantasia tendem a provocar as sensações de medo, prazer, ou seja, de conforto ou desconforto. Recorrer às fantasias é um meio utilizado desde os primórdios do processo de desenvolvimento da criança para apreender o mundo e tudo que o cerca. Com os parcos recursos para enfrentar as diversidades do mundo, a criança vive, imaginariamente, situações significativas para promover sensações desejáveis.


Podemos tomar como exemplo as brincadeiras infantis nas quais a criança reproduz outros papéis (pai, mãe, algum ídolo), incrementados pelo universo de estimulações que recebe. Neste exercício, sua capacidade criativa é explorada e desenvolvida ao longo da infância. Quanto mais a fantasia for incentivada e monitorada por adultos, com valores flexíveis e adaptados à etapa do desenvolvimento infantil, mais chances a criança terá de se capacitar para um discernimento favorável diante dos fatos, nas próximas fases da vida.


Porém, na esteira das transições experimentadas de um período para outro, as fantasias vão se retirando para ocupar um espaço interno adolescente, que passa a ser regido pela inquietação dos hormônios, novidades com as quais passa a se deparar, exigências externas e por suas fantasias que, de agora em diante, dificilmente serão compartilhadas.


No leque de fantasias que reside em cada um, faremos um recorte daquela, cuja temática envolve a sensualidade e o erotismo. Neste aspecto, encontramos a potencialidade das fantasias que, em muitos casos, servem para contribuir com a elevação do nível de excitação erótica, e em outros, para impedir, até mesmo, a motivação erótica.


A auto-avaliação dirigida à produção imaginativa erótica pode provocar os mais diversos sentimentos. Se o repertório de fantasias sexuais é abalado pelos julgamentos rígidos de reprovação, é bem provável que os sentimentos despertados com isso sejam negativos e, portanto, antagônicos à resposta de excitação sexual.


Por outro lado, se o reservatório de fantasias é explorado e apreciado pelas sensações prazerosas que despertam, estará disponível sempre que se desejar a sua grata participação. Se envolver com as fantasias sexuais não representa, necessariamente, um evento preocupante.


É considerado patológico quando a fantasia passa a ser confundida com a realidade, ou quando se tenta concretizar uma fantasia incompatível com a realidade. Do contrário, a fantasia habita um espaço interno que pode ser compartilhado com alguém quando isso é viável, ou ficar reservado à privacidade dos momentos que se escolhe para excursionar pelo reino dos sonhos.


Mais importante que a fantasia em si é o que ela reúne de aspectos simbólicos capazes de elevar a excitação sexual. Por faltarem, muitas vezes, parâmetros que permitam uma vivência bem administrada das fantasias sexuais, elas podem ameaçar, sem que representem algum perigo real, podem ser concretizadas às custas de desdobramentos desastrosos, ou persistirem em detrimento de outras mais satisfatórias.


Porém, como tudo que faz parte da experiência humana, as fantasias precisam ser avaliadas, consequenciadas, selecionadas, adaptadas e também renovadas de acordo com o momento atual de vida.

Margareth Reis é psicóloga clínica e terapeuta sexual do Instituto H. Ellis (SP)


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