Sexualidade

Facilitar a vida dos filhos nem sempre é saudável

20 jan 2011 às 15:39

Ninguém deseja que o filho sofra. A decisão da maioria dos pais de proteger seus filhos do sofrimento compromete o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Facilitar demais a vida de um filho significa roubar dele muitas oportunidades de desenvolver-se. Cada vez que um adulto faz por uma criança ou adolescente algo que ele já é capaz de fazer, retarda ou atrapalha a sua maturação.


É muito comum ouvir adultos reclamando da falta de responsabilidade de adolescentes e de adultos mais jovens; o mais curioso é que as mesmas pessoas que reclamam sabotaram e continuam sabotando as oportunidades de exercitar a responsabilidade.


Confusos, os pais alternam em dois extremos prejudiciais: por um lado são permissivos e toleram todo tipo de desrespeito e ausência de limites, com medo de frustrar os filhos, por outro lado, superprotegem crianças, adolescentes e até filhos adultos como se eles fossem incapazes de realizar uma série de tarefas, transformando-os em sujeitos ''folgados'' e completamente ''dependentes''.


Sem nos deter nos prejuízos ao longo dessa caminhada, destaco aqueles que serão percebidos mais claramente na hora da entrada no mercado de trabalho. Um dos sinais mais significativos será o retardamento da entrada para o mundo produtivo.


Apoiados no mito de que só a graduação não é suficiente, conseguirão uma prorrogação de sua dependência, matriculando-se em sucessivos cursos de pós-graduação sob o pretexto de que ainda não estão preparados. De certa forma eles terão razão ao pensar que ainda não estão preparados, não pela formação acadêmica, mas pela ausência de comportamentos que os tornem pró-ativos, autônomos e responsáveis.


Autonomia não se conquista com o diploma, autonomia se conquista no dia a dia, quando o adulto permite e incentiva a realização de tarefas simples, desde a primeira infância e vai acrescentando outras compatíveis com cada idade.


Aos dois anos de idade uma criança já deve comer sozinha, lavar e secar suas próprias mãos. Aos três deve limpar-se depois de ir ao banheiro, dar descarga, calçar o próprio tênis, carregar a sua mochila quando vai e volta da escola. Aos quatro anos já será tempo de amarrar o sapato, de ir ao banheiro sozinho quando acorda. Aos cinco pode tomar banho e vestir-se sem a ajuda dos pais ou responsáveis. Aos seis é capaz de escovar os dentes, de colocar refrigerante no copo. Aos sete já pode colocar comida em seu prato. Aos oito cortar o bife. Aos dez ter autonomia para acordar sem ser chamado, para fazer a tarefa sem ninguém ter que mandar.


Estes são apenas alguns exemplos do dia a dia que os tornam capazes de ter um desenvolvimento saudável. A escolha é sua. Ou seu filho treina autonomia agora ou sofrerá muito no futuro.

Ailton Bastos - psicanalista (Londrina)


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