Uma hora ou outra todos nos deparamos carentes afetivamente. No entanto, algumas pessoas vivem carentes por todo tempo. Elas não conseguem suportar a falta e sentem uma ''fome'' muito intensa em terem suas necessidades atendidas o mais rápido possível. Esse tipo de atitude faz com que exijam demais das outras pessoas e acaba por prejudicar seus relacionamentos sociais, amorosos ou até profissionais. Por mais atenciosos ou amorosos que sejam as pessoas com quem o carente se relaciona ele sempre quer mais e nunca se dá por satisfeito. Como diz o ditado popular é um saco sem fundo.
Há muitas formas da carência afetiva se manifestar. Podem ser aquelas pessoas que sempre pensam que não são amadas o suficiente, pensam não ter o suficiente, ou pensam não receber nunca o bastante. Estando insatisfeitas essas pessoas buscam então uma compensação. Aliás, muitos problemas de obesidade são uma forma de carência. É quando a pessoa compensa colocando mais comida para dentro tentando preencher uma falta que certamente não será mitigada com o excesso de comida. Até mesmo quem abusa das drogas ou álcool está tentando suprir suas faltas. Outras pessoas têm uma atitude de sempre exigir que outros lhe resolvam suas carências, o que termina por tornar sua companhia indesejável.
Só que o problema de se tentar resolver a carência se excedendo com alguma substância ou tentando forçar alguém a lhe dar aquilo que sente que necessita é que elas ficam presas a um ciclo vicioso. Nunca ficam satisfeitas e sempre querem mais e repetem esse modo de viver sem jamais perceberem que assim não encontrarão pelo que realmente anseiam.
Essa carência que sentem provavelmente se originou na infância e marcou toda a experiência de vida dessas pessoas. Elas nunca puderam desde o início internalizar uma boa auto-imagem, uma imagem que pudesse trazer autoconfiança em enfrentar as faltas da vida e ir à luta para superar algumas delas. Sempre ficaram com uma auto-imagem de pessoas fracas e incapazes que dependem totalmente de algo ou de alguém que venha a lhe suprir, deixando-as mais parecidas com crianças do que com adultos verdadeiramente maduros.
É muito importante quem se encontra nesse estado de carência se voltar para aquilo que realmente pode ajudá-lo a crescer e construir uma melhor auto-confiança para fortalecer os próprios talentos e se sentir capaz de cuidar de si mesmo e satisfeito com as conquistas alcançadas. Assim, a busca por compensações pode ser abandonada e adotado no lugar modos de viver bem mais condizentes com a vida de um adulto. Alguém só larga as compulsões quando se tem algo melhor para colocar no lugar. Nesses momentos uma boa psicoterapia é de excelente ajuda.
Sylvio do Amaral Schreiner - psicólogo (Londrina)