A sexualidade da pessoa com deficiência implica em duplo tabu. Ela assume, muitas vezes, um preconceito entre pessoas que generalizam as incapacidades e limites existentes ao longo do desenvolvimento dessas pessoas com deficiência para a dimensão afetiva e sexual inerente a todo ser humano.
Ao conceituar sexualidade e deficiência, envolvemos questões complexas que englobam aspectos biológicos, psicológicos e sociais. A sexualidade é uma questão abrangente, que tem fundamentos históricos e sociais, e a deficiência, na mesma direção, também abrange um conceito social e histórico, que delimita e julga a diferença em relação a um padrão de normalidade estabelecido ideologicamente. Essa reflexão cabe para todos os tipos de deficiências (sensorial, física e mental).
No entanto, não existe uma sexualidade ''anormal'' relacionada à deficiência mental. O que existe, muitas vezes, é a manifestação inadequada da sexualidade num meio social que julga esses comportamentos como próprios da deficiência, sem considerar que os ambientes familiar e escolar não proporcionam, muitas vezes, condições de aprendizado de comportamentos adequados em relação à manifestação afetiva e sexual. Vale lembrar que desde a infância os pais devem compreender que seus filhos com deficiência mental são pessoas com desejos e prazeres e não eternas crianças, puras e assexuadas.
Leia mais:
Comportamento de risco aumentou infecções sexualmente transmissíveis
Programas focados em abstinência sexual não são eficazes, diz SBP
Evento em Londrina discute vida sexual em relacionamentos longos
Você sabia que colesterol alto pode levar à impotência?
Já no contexto da surdez não se pode deixar de falar da escola e do quanto ela contribui para a construção dos conceitos ligados à sexualidade, ao preconceito, diferenças, intolerância, ao respeito e ao sexo. Esses são assuntos que permeiam as relações que se estabelecem dentro das escolas e estão ligados aos novos paradigmas que essa escola para todos vem construindo e desconstruindo.
É preciso, então, encarar essas inovações educacionais como sendo parte de um processo de educação de qualidade para todos e respeitar a diversidade humana. O reconhecimento da diferença é o primeiro passo para a construção da sexualidade do surdo na comunidade ouvinte que o circula.
Mitos e Verdades
- Mito: a sexualidade da pessoa com deficiência mental é infantil ou inexistente
- Verdade: é importante investir na educação sexual da pessoa com deficiência, pois o desenvolvimento da sexualidade ao longo das diferentes fases da vida (infância, adolescência, idade adulta e avançada) deve ser entendido como um fenômeno que vai ocorrer para todas as pessoas, sejam deficientes ou não
Ricardo Desidério da Silva é professor mestrando e educador sexual