Há décadas as mulheres discursam estarem à busca de homens que demonstrem seus sentimentos, se emocionem, que sejam, enfim, mais femininos. A cultura ocidental tem produzido pessoas mais andróginas: homens emotivos; mulheres executivas. E esta condição passou a trazer situações conflitantes para os casais. Pensemos em um exemplo dos consultórios de terapia: um casal que se forma, namora e casa, como esperamos que façam. E, como todos também fazem, não conversam sobre as expectativas reais de como seriam quando casados.
Moldado por novos formatos, o homem aprendeu comportamentos tidos como desejáveis pelo discurso feminino. Gosta de cozinhar, fazer um carinho diferente. E assim iniciou uma competição que não percebera. Não percebe que quando deseja preparar uma receita especial, está ocupando o espaço dela. Comportamentos como este podem alimentar sentimentos negativos. Nestas condições, o sexo passa a ser mais um ponto para o casal discutir.
Ainda é comum as mulheres se afastarem do sexo e homens exacerbarem a necessidade do sexo. Então, ele passa a usar a internet, a masturbação para se satisfazer. E a crise surge (crise que já existia, mas não era reconhecida): a mulher descobre atos sexuais do marido sem a presença dela. E exige que ele se trate, resolva a compulsão sexual. Baseado no projeto de vida que fizera, ele irá se dedicar a mudar: psicoterapia intensiva com foco no comportamento patológico que parece atrapalhar o casal.
A mulher, contudo, questiona as causas reais do distanciamento. Ele não complementa o que ela necessita: ser objeto de dedicação dela. Ela precisa de alguém que cuide dela e se deixe cuidar. Que insanidade é essa de tomar posse da cozinha? Ele tem o comportamento esperado de um adulto jovem que divide o mundo com a mulher, que se emociona, cuida ... E ela ainda deseja um homem à semelhança daqueles de gerações anteriores.
É experimentando as situações que o casal conseguirá saber que a realidade que conseguem produzir não é a que de fato querem. Conversar e produzir um contrato de casamento é necessário, mas aprender a reformular o contrato, lidando com as frustrações advindas de diferenças, é o mais importante.
Oswaldo Rodrigues Jr, psicoterapeuta sexual e diretor do Instituto Paulista de Sexualidade