Num belo dia, o filho ou a filha chega em casa, se enche de coragem e determinação e diz para os pais: sou homossexual. A revelação pode ser um choque para os pais, mas é um alívio para o filho ou filha. Milhões de pais já passaram por isso, em todos os lugares do mundo. E mesmo sabendo que esta situação não é tão incomum, a maioria continua angustiada, sem saber exatamente como e o que fazer. Mas não são só eles.
O que fazer nesta situação foi a pergunta que encerrou o seminário sobre sexologia dias atrás, numa das mais conceituadas universidades brasileiras. No curso estavam 50 profissionais de diversas especialidades que já trabalham com sexualidade. A pergunta causou um silêncio preocupante. Como lidar com esta revelação?
É comum, na maioria das comunidades, que as crianças, desde bebês, sejam orientadas para o gênero heterossexual. O menino ganha roupas azuis, bola de futebol, carrinhos. O quarto das meninas é decorado em tons rosa, elas recebem bonecas e panelinhas de presente. Por isso, quando acontece a revelação da opção sexual do filho, muitos pais acham que fizeram algo de errado na educação deles. E até se culpam por isso.
Desde 1985, o Conselho Federal de Medicina do Brasil não considera a homossexualidade uma doença física e mental. Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia publicou uma resolução, normatizando a conduta dos psicólogos diante da questão: ''Os psicólogos não colaborarão com eventos ou serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades''. Traduzindo: homossexualidade não é doença.
Algumas estatísticas mais tradicionais dizem que 10% da população masculina é bissexual, sendo que de 2% a 4% seria exclusivamente homossexual. Os percentuais caem pela metade no caso das mulheres. Há pesquisas sendo divulgadas nos Estados Unidos mostrando que 24% da população, em algum momento da vida, desenvolveu alguma ação homossexual. Além desta situação, ainda existe a homossexualidade ocasional. Isso ocorre muitas vezes em ambientes de muita tensão, como nas guerras e cadeias.
A homossexualidade nada mais é do que uma das variações das diversas possibilidades do desejo sexual que o ser humano tem. Por isso, se o seu filho ou filha disser que é homossexual, nada de brigar; isso só piora a dor de todos.
O melhor caminho é conversar e entender em que nível de amadurecimento emocional a pessoa se encontra, como está a saúde física e mental do filho(a) e quais são suas necessidades reais. O entendimento e a proteção familiar são o socorro mais imediato para amenizar a angústia pela qual o filho ou a filha passou nos anos de silêncio.
Márcio Dantas de Menezes, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Sexual