A sexualidade é inerente ao ser humano. A pulsão sexual está presente desde o nascimento do bebê, entretanto passa pelo crivo da moralidade para que suas manifestações sejam aceitas.
A moral é um conjunto de deveres e ações consideradas obrigatórias (Yves de La Taille). A fusão entre o amor e o medo inicialmente é a responsável pela vontade de ''penetrar o universo moral e ser penetrado por ele''. O desenvolvimento da moralidade depende de fatores biológicos, cognitivos e afetivo-emocionais, associados às práticas educativas submetidas aos valores do grupo social.
A criança se preocupa com o que os outros vão pensar (moral heterônoma). O adulto, se desenvolvido adequadamente, atua conforme a moral autônoma, em que o importante não é a sanção proveniente do grupo, e sim os seus próprios princípios morais.
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O superego, instância psíquica que funciona como censor e leva o indivíduo a ponderar sobre a melhor forma de agir, é construído a partir das relações com os pais, cujos princípios morais são influenciados também pelos preceitos religiosos.
As religiões, muitas vezes, utilizam regras rígidas e ameaças de punição ao transgressor que, se possuir um superego muito severo, sentirá medo e/ou muita culpa por acreditar que foi além do permitido pela lei divina.
Em tais situações, embora cronologicamente adulta, a pessoa funciona de forma imatura tanto em termos emocionais quanto morais, ficando prisioneira do julgamento alheio e não da moral autônoma. Consequentemente, o desenvolvimento da sexualidade sadia fica comprometido.
As regras de conduta vigentes nas religiões (castidade pré-matrimonial, monogamia, entre outras) contribuem para o controle da pulsão sexual, levando a manifestações esperadas pelo grupo social.
A moral religiosa auxilia a conter e até a disciplinar as manifestações da sexualidade, favorecendo a constituição e manutenção dos vínculos familiares. Por outro lado, se a força de coerção for exagerada, pode levar a sentimentos de culpa e repressão da pulsão sexual de forma patológica, levando a desfechos desastrosos: desde a frigidez e impotência até a total aversão ao sexo.
Mitos e verdades
- Mito: a religião favorece a sexualidade bem vivida
- Verdade: regras rígidas comprometem o desenvolvimento sadio da sexualidade
Maria Elizabeth Barreto de Pinho Tavares, psicóloga doutora em psicologia clínica