A criança é espontânea, busca o afeto quando deseja. Ela só se retrai a partir de decepções que não consegue suportar. Neste caso, renuncia à busca e tenta bastar a si mesma. Seu desejo a torna vulnerável e ela aprende que é mais seguro não desejar ou tentar manter controle sobre aquele que deseja. As feridas são tão profundas que a pessoa não quer mais correr riscos e se protege definitivamente. O medo de se expor e de criar laços torna-se intolerável, já que as primeiras relações fracassaram. Portanto, conclui que não vale a pena investir.
Observe como foram estabelecidas suas primeiras relações. Se suas necessidades não foram atendidas conforme sua expectativa, é maior a possibilidade de não querer relações mais profundas, que trarão algum nível de exigência. Assim, o indivíduo pode passar pela vida experimentando relações fugazes, que não aprofundam porque, no fundo, existe o medo da entrega, da intimidade e do compromisso. Existe o medo de reviver as decepções e frustrações que foram experimentadas na infância. Ficou o registro de que amar é sofrer.
Observamos que há pessoas que nos roubam, que nos enfraquecem, e há pessoas que somam, acrescentam e nos fortalecem. Dos relacionamentos já vividos, qual deles conseguiu modificar sua vida verdadeiramente para melhor? Será que você pode ser uma lembrança difícil e dolorosa na vida de alguém? Será que foi refém de alguém? Ou será que construiu prisões de um amor possessivo e desumano para as pessoas que se relacionaram com você? Será que idealiza demais as situações e, por isso, pode perder a oportunidade de encontrar pessoas que lhe fariam bem?
Não tenha medo das respostas. É por meio delas que você poderá entender quem você é, e isso lhe fará crescer. O crescimento nos traz a chance de vivermos um grande amor de uma forma segura, protegida e saudável. A auto-estima e a segurança interior são bens que se obtêm e se cultivam essencialmente a partir de laços consistentes e duradouros.
Margareth Alves, psicóloga e terapeuta familiar