Falar de ciúme não é tarefa fácil, costuma-se vincular este sentimento ao amor. E o que é amor? Algo que nos torna vulneráveis à dor da perda? Mas perda está intrinsecamente ligada à posse. O amor é da ordem dos sentimentos, do ser e existir, não se possui, simplesmente sente-se.
Estimulados pela possibilidade da perda os amantes partem para a sedução, dispõem dos mais variados artifícios para manter a relação. Entretanto, existem muitos sentimentos nos quais se apóiam o ciúme, dos comuns aos mais complexos, e poucas vezes podem ser elaborados pelo ciumento. Um deles é o sentimento de posse. Não basta viver o amor, é preciso possuir o outro, seus pensamentos e sonhos. Criam-se fantasias de traição, ameaça, vindas de todos os lados.
O comportamento do ciumento, geralmente, não se funda na realidade e nos remete há duas questões: Para quem olha o ciumento? Como anda sua autoestima?
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Muitas vezes o ego está em foco. Autoestima rebaixada, a vaidade ferida e a angústia por ter sido trocado por outra pessoa pode doer mais do que a perda em si e raramente é percebido.
A angústia da suposta perda ou da perda em si, da rejeição, pode ultrapassar o limite do suportável, causando graves prejuízos na existência das pessoas envolvidas. É o considerado ciumento delirante.
Surgem restrições na sociabilidade, no campo profissional e familiar, privilegiando o isolamento do casal. Brigas, conflitos e desentendimentos implicam constrangimento, compromete o desenvolvimento das pessoas envolvidas, suas atividades e relações com o mundo.
O ciúme, culturalmente intrínseco ao amor, é frequentemente justificado e legitimado como álibi para comportamentos hostis, como maus tratos, violência e até mesmo para o crime; pode camuflar as diversas faces do narcisismo.
Imperativo lembrar que o ciúme exacerbado aparece progressivamente, numa escala do normal ao patológico, em intensidade, variações diversas, e não raro foge à realidade. Envolve angústias, mudanças de comportamento, busca por confirmação das suspeitas, provas da traição, sentimentos de perseguição e ameaça. O sofrimento pode comprometer a saúde do ciumento.
Para as pessoas que sofrem de ciúme exacerbado e reconhecem em si tais oscilações de humor e comportamentos recorrentes, o processo psicanalítico pode favorecer efetiva e significativamente suas vidas, a partir de uma análise apurada sobre questões pessoais como: autoimagem, autoestima, baixa tolerância a perdas e frustrações, confiabilidade, dificuldade e habilidades do pensamento, que promovem tais dissonâncias emocionais e resultam nessa rede de sentimentos e comportamentos prejudiciais. As questões do ciúme estão muito mais ligadas à pessoa que o sente do que ao objeto do ciúme.
Anaí Licia Couto - psicóloga