As cirurgias plásticas podem melhorar a auto-estima, e há pesquisas mostrando a possibilidade de melhoras na saúde geral, como no caso da depressão. O seu efeito é mais acentuado nas cirurgias corretivas como, por exemplo, nos casos de câncer de mama, favorecendo o processo de recuperação das pacientes.
Cada vez mais homens têm buscado uma melhor auto-imagem por meio dos recursos estéticos como lipoaspiração, implantes de cabelos, entre outros, com favorecimento da socialização.
Mas há que se tomar cuidado com a banalização dos tratamentos, lembrando a frase do nosso querido colega Ivo Pitanguy: ''Qualquer pessoa com um ego mais bem estabelecido não procuraria a cirurgia plástica''. Naturalmente, frases de efeito à parte, estamos vivendo a era da ''sociedade liquida'', com uma supervalorização da aparência em que modelos desfilam roupas e corpos descartáveis e consumíveis. A mídia determina, em grande parte, a cultura da beleza estereotipada para ser comercializada e consumida na roleta russa da sexualidade irresponsável e fútil.
Influenciados por um tipo físico inatingível, esteticamente perfeito, homens e mulheres consomem pneus, cosméticos, carros e até tabaco na esperança de identificação com astros e estrelas. A mídia transformou seres humanos em uma legião de fantasmas que vivem na sombra dos grandes ídolos.
Ser vaidoso, cuidar da saúde e da aparência faz parte de uma boa saúde mental e de um envelhecimento equilibrado, mas o que estamos vendo é uma correria irracional e adolescente em busca da fonte da juventude, como se as pequenas rugas, a barriguinha indiscreta pudessem nos tirar a alegria de estar vivos e o amor pelo nosso próximo.
A construção da sexualidade num primeiro e rápido encontro pode ser alicerçada em atributos de beleza, mas a seguir a complexidade e profundidade do relacionamento humano normal caminha pelas insondáveis e inebriantes estradas da intimidade. Esta sim é o grande segredo dos casais desejantes, estes felizardos que desfrutam gota a gota da presença do ser amado.
Uma correção cirúrgica eventual pode colaborar com o prazer sexual, mas sempre de modo secundário, pois o desejo, construído ao longo de anos bem vividos, em muito transcende as pequenas marcas inegáveis e indeléveis deixadas pelo tempo. Não se iludam: o grande afrodisíaco é o amor.
Calvino C. Fernandes, terapeuta sexual e ginecologista