Homens que tiveram câncer de próstata têm dificuldade em lidar com o envelhecimento, representado pelo adoecimento e pelo declínio da atividade sexual. A constatação é da psicóloga Rosita Barral, a partir de uma pesquisa qualitativa envolvendo dez homens que tiveram a doença.
De acordo com a psicóloga, na área médica existem diversos estudos envolvendo o tema, porém, há poucas pesquisas qualitativas que tratam dos aspectos psicológicos dos pacientes. Os entrevistados tinham idades entre 51 e 82 anos, sendo sete casados, dois viúvos e um divorciado (os três últimos tinham namorada). Nove deles passaram pela prostatectomia radical (retirada total da próstata) e apenas um passou por radioterapia.
Os estudos têm evidenciado a relação entre os tratamentos para a doença e a possibilidade de ocorrência da disfunção erétil (DE). ''A cirurgia de retirada da próstata pode lesionar alguns nervos envolvidos no processo de ereção. Além disso, os aspectos psicológicos relacionados à doença, como o câncer, podem afetar a vivência da sexualidade'', relata.
Porém, a pesquisadora ressalta que alguns pacientes com câncer de próstata, antes mesmo da doença, já apresentavam modificações na atividade sexual, devido ao processo natural de envelhecimento. ''Por isso, não se pode afirmar que o câncer de próstata ou o tratamento são os únicos fatores relacionados à DE''. No entanto, oito dos entrevistados atribuíram seus problemas de DE à doença. ''Apenas dois deles, com idade mais avançada, 82 e 78 anos, relataram que, antes do câncer, já haviam percebido uma mudança na sexualidade''.
A maioria dos entrevistados mostrou a intenção de buscar um tratamento para o problema, seja por meio do uso de medicamentos, ou pelo implante de prótese peniana. ''Outros dois afirmaram que não tinham a intenção de tratar a DE porque a relação afetiva com as parceiras era muito positiva. Neste caso, percebemos que eles atribuíram um novo significado à sexualidade a partir da valorização da expressão de afetos e de maior abertura ao diálogo com suas parceiras''.
A psicóloga esclarece que todos os entrevistados relataram que receberam muito apoio das parceiras. Mesmo assim, o medo da rejeição em virtude da DE pôde ser observado na maioria deles.
Para a maioria dos entrevistados, a sexualidade se resume ao ato da penetração e eles acabam se fechando para as outras possibilidades de vivenciá-la e expressá-la.
Segundo a pesquisadora, o ato de penetração está diretamente relacionado à idéia de virilidade, que aparece em nossa sociedade como um dos atributos do ideal de masculinidade ainda vigente. ''O desejo desses homens pelo implante peniano é uma forma de negar não apenas o declínio da sexualidade, mas também o adoecimento e a proximidade da finitude''.
Valéria Dias, da Agência USP