Se observarmos os animais quando pequeninos veremos que brincam o tempo todo. As brincadeiras podem ser interpretadas como sexuais ou não, depende do observador. Mas brincam, pois é através do brincar que tanto os animais como os humanos aprendem a lidar com a vida. Aprendem a se defender, a demarcar território, a caçar, a compartilhar, a competir, cooperar, a resolver problemas e nós humanos também aprendemos papéis que desempenharemos ao longo da vida, a criar, experimentar novas situações, entre outras coisas.
Brincar é essencial para a criança. Quando ela não brinca está seriamente doente, se não fisicamente, mentalmente. Em seu processo de desenvolvimento, a sexualidade também está presente na criança. Como dizia Freud, nosso corpo é erótico e sentimos prazer no toque, quando nos pegam no colo, amamentam, beijam, abraçam, alimentam, dão banho. A troca de olhar entre a mãe e a criança provoca liberação de ocitocina, sendo prazerosa para as duas, produzindo também prolactina na mãe, que assim a amamenta. Tudo isto é natural e necessário para a sobrevivência da espécie.
Nos primeiros anos de vida o brincar estará associado à oralidade, com a criança levando tudo à boca e aprendendo a falar, e também ao controle de esfíncter e uretra, tranferindo seu desejo de evacuar e urinar ou de reter, para brincar com água, argila, massa de modelar, tinta, recortando e desenhando, produzindo suas primeiras obras. Deve ser estimulada e também aprender os limites necessários para sua vida já nestas fases. Até aqui, muitas vezes a criança prefere brincar sozinha, mas a partir dos 3 anos, se torna mais social e a curiosidade a respeito do próprio corpo e do corpo dos amiguinhos aparece.
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Isto deriva da curiosidade que passa a ter a respeito do corpo dos pais, das diferenças sexuais e da relação que os pais têm entre si e que difere da que tem com os filhos. Passam a brincar de médico, de papai e mamãe, de namorar. Estão se preparando para a vida futura, tendo como modelo os próprios pais. Quando as crianças são da mesma idade, suas brincadeiras sexuais são esperadas e naturais. Os pais podem pôr limites quando correm o risco de se machucarem. Devem sempre responder às perguntas dos filhos e usar linguagem acessível à criança.
Não devem associar sexo com pecado, mas devem ensiná-los a associar com amor e com o futuro, quando forem jovens. Também devem ensiná-los sobre intimidade e como se comportarem em público. As brincadeiras sexuais entre crianças da mesma idade não costumam ser perigosas e só traumatizam quando o adulto interfere recriminando, punindo e incutindo culpa. Quando uma criança obriga outra criança a algo que ela não quer também pode traumatizar e os pais devem estar atentos ensinando seus filhos a se defenderem. Tudo isto faz parte do jogo da vida.
Mito: As brincadeiras sexuais entre crianças da mesma idade são perigosas e traumatizam
Verdade: Adultos assediando sexualmente crianças traumatizam, podendo produzir desde depressão até futuros perversos
Denise Hernandes Tinoco é doutora e mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP, docente em graduação e pós-graduação em Psicologia e psicoterapeuta