Brincar é coisa muito séria. A brincadeira é uma representação da vida. O brinquedo em si não influencia a sexualidade da criança, mas sim a forma como ela brinca e realiza o faz-de-conta.
É brincando que a criança se prepara para o mundo adulto. A criança não se preocupa com regras que definem papéis diferentes para ele ou para ela. Brinquedo não tem sexo na cabeça delas. Elas querem simplesmente brincar, sem preconceito de escolha.
É interessante pais e educadores se questionarem: será que ao reprovar nos meninos brincadeiras consideradas femininas não estariam bloqueando um aprendizado por meio do qual o menino experimentaria a função de pai participativo nos cuidados e na educação dos próprios filhos?
É importante que pais e educadores saibam que não há época definida para que se forme a identificação sexual. Desde o nascimento do filho os pais se preocupam em imprimir um gênero à criança.
Esperam comportamento específico de menina e de menino. Daí a dificuldade de aceitar atitudes como a de uma menina que só quer jogar bola ou brincar com carrinho, e o menino que só quer brincar de boneca.
A construção da sexualidade acontece independentemente das aparências e das pressões familiares. Portanto, um menino que gosta de brincar com boneca não é sinal de tendências sexuais.
Segundo o sexólogo Marcos Ribeiro, o brincar não exerce influência sobre a identidade sexual simplesmente porque para as crianças não tem essa conotação. 'Menino Brinca de Boneca' é o nome do livro de autoria dele. Um dos objetivos do livro é trabalhar o preconceito de pais e educadores de que os meninos e as meninas podem brincar com as mesmas coisas. O livro desmistifica os papéis homem e mulher atribuídos aos sexos desde a infância, estimulando o jovem a refletir e opinar sobre o tema e respeitar as diferenças.
Brincar é sinônimo de aprender. O brinquedo é o principal meio de a criança investigar e aprender sobre o mundo ao seu redor, e serve como forma de lidar com seus próprios sentimentos e ansiedades. A criança se entrega ao brinquedo como o cientista se entrega à pesquisa.
É brincando que a criança expõe suas emoções, deixa vir à tona seus conflitos e aprende a interagir com o mundo no qual vive.
Portanto, não existe brinquedo específico para menino ou para menina, porque para a criança, o brinquedo não tem sexo.
Marilandes R. Braga, psicóloga e terapeuta sexual, membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana (Presidente Prudente-SP)