Podemos entender a relação entre a atividade física e a sexualidade como um círculo virtuoso. Indivíduos sexualmente ativos preocupam-se mais em estar com o corpo em forma, podendo assim aumentar a capacidade de atrair o(a) parceiro(a). A atividade física melhora o estado de saúde e tem o poder de elevar a autoestima. A atividade sexual regular traz benefícios à saúde, até mesmo por ser também uma atividade física.
Dados mais precisos sobre o consumo de energia durante uma relação sexual são de estudos que avaliam o equivalente metabólico (MET). Calcula-se que o MET relacionado à atividade sexual seja de 2 a 3, ou metabolismo 2 a 3 vezes maior que no repouso. Durante o orgasmo o MET é de 3 a 4. Já uma caminhada tem um MET de 2 a 3 dependendo da velocidade. Uma corrida apresenta MET de 6 a 7. Vale lembrar que a atividade sexual é considerada um exercício muito leve, e não devemos pensar que é suficiente do ponto de vista de atividade física, mas é melhor do que a combinação do sedentarismo e o celibato.
Do ponto de vista neuroquímico, a atividade física promove a liberação de substâncias no cérebro como endorfina, dopamina e endocanabinoides, que além dos efeitos imediatos de euforia e analgesia, promovem uma modulação do funcionamento cerebral de forma mais sustentada, resultando em maior equilíbrio mental, menos sintomas de ansiedade e depressão.
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Nas academias de ginástica o cérebro pode ir além. O clima de paquera de uma academia pode até servir de ''aquecimento'' para a atividade física. Entre os mamíferos, o cortejo com o potencial parceiro sexual provoca uma série de mudanças comportamentais, como atenção e disposição física. Entre os humanos, sabemos que o homem é mais responsivo aos estímulos visuais de beleza e juventude. Já as mulheres respondem mais a estímulos que envolvam sinais de poder e riqueza.
Malhar em grupos de ambos os sexos tem suas vantagens. Além dos estímulos visuais, o cheiro de suor do sexo oposto pode influenciar a disposição de quem está malhando, já que pode potencializar a percepção de sinais químicos chamados feromônios, com mudanças nos níveis hormonais de quem sente o cheiro. Na maioria dos mamíferos os níveis hormonais são influenciados pelos feromônios, e uma das pistas de que esse sistema atua nos humanos é a de que a convivência entre mulheres está associada à sincronia de seus ciclos menstruais. Existe debate se esse é um sistema relevante para humanos mas estudos recentes têm confirmado a teoria.
O feromônio humano mais estudado até hoje é o hormônio androstadienona, presente na saliva, sêmen e suor dos homens. A androstadienona é capaz de influenciar o humor, nível de alerta e atividade cerebral em mulheres e em homens com orientação homossexual. Recente pesquisa revelou que mulheres que cheiravam a androstadienona pura tiveram seus níveis de hormônio corticoide elevados após 15 minutos. Essas questões podem explicar o sucesso das academias de ginástica. Talvez explique também o fôlego de maratonista dos foliões no Carnaval.
Ricardo Teixeira, médico doutor em neurologia (Brasília)