Amar demais é vício, fanatismo, obsessão, posse, dependência, e não amor. Por isso, quem ''ama demais'' não consegue ter uma relação amorosa, transformando-a em dolorosa. Esses relacionamentos geralmente envolvem sofrimento, desgaste e desespero, não só para aqueles que não conhecem os limites no amor como também a seus parceiros, que perdem o direito à própria existência e tornam-se propriedade do amante possessivo.
Com a justificativa de amar demais, a pessoa vira um canibal romântico devorador de alma. Dependência é a palavra-chave para desvendarmos a alma dos que supõem amar demais. Toda criança depende dos pais, e ao dar-lhes um poder onipotente, vive a fantasia de que estando com eles ficará amparada para sempre. Mas isso é um engano. A forma como essas relações iniciais foram experimentadas pela criança definirá em grande parte quem ela será no futuro.
Quando traz fortes vínculos emocionais da infância, a pessoa se sente amparada e capaz de cuidar-se, não precisando pôr os parceiros de suas relações adultas nesta função.
O discernimento entre o eu e o outro é uma aquisição psíquica. Num primeiro momento, o bebê acha que ele e a mãe são uma coisa só. Em uma relação adulta, mas com características infantis, a pessoa cresce acreditando que ''ama demais'', já que sente o outro como um pedaço dela. Neste caso, a falta do amado é vivida como um aleijamento.
Ávido como um tigre insaciável, o compulsivo caça no mundo externo aquilo que acredita preencher-lhe o vazio e resolver a angústia: o cigarro, a bebida, as drogas, o outro. Inventa e insiste neste engano às vezes a vida inteira. A arrogância ajuda frequentemente a compor o quadro - movida por um pensamento onipotente, a pessoa imagina que, cercando de todas as formas, conquistará sua louca paixão.
Outras vezes é o masoquismo que surge como sintoma complementar: a pessoa sofre, se consome. Para ela, amar é viver em permanente agonia. Sofre para despertar a piedade do outro e ser amparado por ele. O desamparo humano não tem cura, mas pessoas têm. E uma vez curadas do ''amar demais'', contam menos com o outro e mais com elas mesmas. A independência e a maturidade ajudam a diminuir o sentimento de desamparo. Aí até é possível começar a amar a si mesmo e ao outro.
Margareth Alves, psicóloga e terapeuta familiar