A natureza deste assunto coloca a maioria das pessoas à margem da realidade, uns por desconhecimento das estatísticas e outros por causa da fragilidade destes dados, que não representam a totalidade dos casos existentes, tanto no Brasil como no mundo. A maioria dos casos não é denunciada ou por medo da própria criança contar a alguém o que se passou com ela, ou por receio da família de se expor ao escândalo.
Outro fato que torna ainda mais difícil abordar este assunto e tomar as providências terapêuticas e legais cabíveis é que o abusador, na maioria das vezes, é da mais absoluta confiança da família e da criança. Vale a pena examinar as estatísticas que apontam os próprios pais, padrastos, tios, avós, irmãos e outros cuidadores - que poderíamos considerar acima de qualquer suspeita - como os principais protagonistas deste crime hediondo.
Mas o que se pode considerar abuso sexual infantil? Qualquer comportamento de natureza sexual que envolva um adulto e uma criança, mesmo que não inclua o ato sexual de penetração ou de relação oral-genital. O simples fato de tocar nos genitais da criança como se fosse um jogo de brincadeira, ou mesmo fazer com que ela toque nos genitais do adulto, expor os genitais para a criança, mostrar material pornográfico, apenas isso já é considerado abuso sexual infantil e é passível de ser enquadrado como pedofilia.
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É fácil concluir que os danos emocionais e psicológicos decorrentes de uma experiência como esta podem ser devastadores se não forem adequadamente tratados. O primeiro e mais visível é uma violenta perda de auto-estima. Não é raro que a criança torne-se amarga e passe a viver com uma profunda desconfiança de todos os adultos. Muitas chegam a considerar o suicídio como única forma de escapar a este sofrimento extremo. A longo prazo, abusados podem tornar-se também abusadores, envolver-se com prostituição ou terem dificuldade de se sentirem dignos de uma relação sexual adulta satisfatória.
Mas vale registrar que, a despeito de terem sido abusadas, boa parte das pessoas adequadamente tratadas têm a chance de levar uma vida absolutamente normal.
Mitos e Verdades
- Mito: o abusador é uma pessoa que apresenta um comportamento diferente, facilmente identificável.
- Verdade: o abusador pode ser qualquer pessoa. Na maioria das vezes, são pessoas aparentemente normais.
Ailton Bastos, psicanalista