Morar juntos tem se constituído em opção natural para duas pessoas que mantém um relacionamento e se gostam. Esse passo, nem sempre avaliado em toda a sua extensão, visa a manutenção de uma simples convivência sem formalidades legais.
Temperada por razões práticas, essa escolha acaba por envolver apenas as providências aparentemente mais imediatas. Sair da própria casa, acolher uma parceria na própria casa ou que integre filhos de relacionamentos anteriores à vida em comum atual costumam figurar como exemplos que selam uniões.
O que nem sempre se inclui nesse projeto inicial dos amantes é um dado de realidade inevitável. Com a rotina que se estabelece, o relacionamento começa a ganhar contornos próximos aos daqueles matrimoniais convencionais, ainda que isso não fosse uma intenção daqueles que adotaram uma posição menos complicada: viver a vida a dois, sem burocracia.
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E viver a vida a dois sem burocracia não é sinônimo de viver só o que é bom sem se comprometer com o restante da relação. Diferente do período em que os dois só passavam as noites - ou as horas que podiam - juntos, o prazer erótico que os estimulava não reinará sozinho no afã de uma vida em comum. O que não significa que a relação doméstica condene o prazer erótico à extinção.
Acontece que a vida a dois exige entendimento, compreensão do significado da relação e dos limites do casal para sobreviver. Os dissabores experimentados pela violação dos valores que orientam a vida de cada um, quando não discutidos com seus mais legítimos sentimentos e acertados para ambas as partes, podem interferir no prazer da união.
O prazer sexual é uma das possibilidades de prazer na vida a dois, e, muitas vezes, a mola propulsora para a decisão de se concretizar a convivência. Só que o prazer sensual não garante a satisfação dos outros fatores, assim como os mal entendidos poderão afetar o erotismo na relação.
As expectativas secretas que cada um carrega sobre o relacionamento se transformam em conflitos quando são constatados os pontos de divergência. Desde o significado de fidelidade, do desejo de ter um filho, da mudança de idéia sobre os direitos na relação, até o acordo das bases contábeis que garantam a confiança nos investimentos conjuntos.
Pode ser na superestima do prazer sexual em detrimento do acerto dos outros aspectos que garantem a harmonia de uma convivência que muitos sonhos românticos acabem por se transformar em pesadelos. Então, será que a existência da rotina é culpada por destruir o erotismo na vida a dois? Bem, é bom lembrar que a vida, em todos os seus planos, exige uma certa logística para funcionar bem.
Margareth Reis é psicóloga clínica e terapeuta sexual no Instituto H. Ellis (SP)