Os afastamentos de profissionais que atuam em restaurantes, bares, supermercados e shoppings pelo país dispararam com a alta recente de casos de Covid-19 e influenza. Segundo as principais entidades dos setores, cerca de um em cada cinco funcionários têm se afastado do trabalho em razão das doenças neste início de ano.
O aumento de casos e consequente desfalque no quadro de pessoal é mais um revés na pandemia para o setor de serviços, que esperava retomada dos gastos das famílias no início de 2022, impulsionada pela ampliação da vacinação.
Levantamento da ANR (Associação Nacional de Restaurantes) com mais de cem empresas concentradas no eixo Rio-São Paulo indicou que 85% delas estão com pessoal afastado atualmente. Os funcionários em licença médica constituem cerca de 20% da força de trabalho desses estabelecimentos.
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A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) divulgou também que um em cada cinco funcionários do setor foi afastado por suspeita de Covid-19 ou influenza entre final de novembro e a última semana. A entidade aponta que a maior dificuldade agora tem sido testar os funcionários, que são afastados quando apresentam sintomas e levam até oito horas na rede pública e cinco dias na rede privada para conseguirem resultado do teste para Covid-19, quando disponível.
O presidente do Sincovaga-SP (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios, que reúne de grandes redes de supermercado a mercadinhos), Álvaro Furtado, avalia que a proporção de pessoal afastado no setor seja similar à registrada nos restaurantes e bares. "As empresas têm relatado cerca de 20% a 25% de pessoal afetado, sem prejuízo das operações, apesar dos quadros desfalcados", diz Furtado.
Segundo o dirigente, as redes de supermercados com mais afastamentos na capital têm promovido o remanejamento de funcionários entre unidades para suprir a falta de pessoal. A recomendação aos associados é a testagem de funcionários a partir dos primeiros sintomas, para evitar que o alastramento da nova variante ômicron, mais contagiosa, prejudique as operações do setor.
O aumento da disponibilidade de testes na rede pública é demanda também dos restaurantes, diz Fernando Blower, diretor-executivo da ANR. "É muito importante termos acesso a testagem, que é cara quando temos que recorrer a laboratórios privados", diz. "Nosso setor depende de mão de obra intensiva. O fator humano é essencial, por isso o impacto em momentos assim é mais significativo. Com a crise que afetou o setor nos últimos dois anos, os restaurantes já estavam operando com equipes reduzidas e pouca margem de manobra", diz.
É o caso do Occhi Ristorante, na zona sul de São Paulo, que possui 32 funcionários. Três foram afastados na primeira semana de janeiro –um deles hospitalizado com influenza. Outros, que apresentaram sintomas, também foram afastados em seguida.
O estabelecimento concede a licença ao primeiro sintoma e libera o retorno após o resultado negativo do exame, diz o proprietário, Ronaldo Occhi. O isolamento imediato de sintomáticos é a recomendação das principais autoridades sanitárias do mundo, como a OMS. "Nossa equipe ficou extremamente reduzida. E agora temos caso de reinfecção pela Covid", diz.
O empresário observou queda no movimento do público por causa das novas cepas de gripe e Covid-19, intensificada pela redução esperada de clientes no período de férias de janeiro, e diz que o setor se sente abandonado pelo poder público. "Em momento algum teve ajuda ou incentivo. A cada momento é uma crise diferente, e nós pagamos a conta."
Na padaria Carillo, zona leste da capital, a Covid-19 e a gripe afastaram 10 dos 28 funcionários nos primeiros dias do ano. A falta de profissionais de confeitaria e massas frescas afetou as vendas esperadas para o Natal e Ano Novo, diz Guilherme Carillo. "Foi uma avalanche. Cada hora um novo susto. Agora estamos sem nosso forneiro, que está com suspeita."
Graças ao sistema de "pague e leve", no entanto, a padaria dobrou o faturamento durante os dois anos da pandemia e agora está utilizando os recursos para contratar novos funcionários, que devem amparar a equipe em caso de novos afastamentos. O proprietário também aposta na recuperação do setor e está investindo em ampliação da casa e criação de serviço de atendimento no salão.
A Abrasel estima crescimento de 4% do setor em 2022, apesar de receio dos impactos que a alta na inflação, queda no poder aquisitivo e incerteza da eleição podem trazer ao setor nos próximos meses. "Com a resiliência adquirida em 19 meses enfrentando a Covid, o setor está se saindo bem e seguiremos oferecendo um bom serviço", diz Percival Maricato, presidente da entidade.
Segundo ele, as atenções do setor estão voltadas agora para a rejeição pela Câmara do veto do presidente Jair Bolsonaro ao novo Refis. "Para o nosso setor, pode ser uma tragédia igual ou pior que a pandemia."
Shoppings não têm números sobre afastamentos Enquanto restaurantes e supermercados concordam sobre os impactos da nova variante e da gripe entre seus quadros, lojistas de shoppings divergem sobre o volume de afastamentos e as medidas a serem adotadas.
A Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites) divulgou neste domingo (9) que solicitaria aos shoppings redução no horário de abertura e abatimento de aluguéis para lidar com a falta de mão de obra e a redução do público nas lojas. A entidade está realizando levantamento sobre os afastamentos, informou à Folha.
A Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), no entanto, se opõe veementemente a quaisquer novas restrições de horário, diz o presidente, Nabil Sahyoun. "Nós já superamos a Covid. Claro que número de mortes preocupa, mas diminuíram bastante. As pessoas estão voltando a sua normalidade, sabendo conviver bem com a Covid", defende.
Sahyoun afirma que a entidade não possui os números sobre os afastamentos atuais e não tem recebido demandas de associados sobre o tema. Ele defende que as lojas afetadas por afastamento de pessoal devem contratar trabalhadores temporários e negociar sua situação direto com as administrações dos shoppings.
O setor de bares e restaurantes emprega cerca de 5,4 milhões de pessoas. As lojas associadas da Alshop empregam cerca de 1,5 milhões de trabalhadores, em aproximadamente 660 shoppings centers.