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Vacinação defende crianças de sequelas da Covid-19

09 out 2023 às 09:26

Além de evitar casos graves da Covid-19, a vacinação contra a doença é fundamental para proteger as crianças de sequelas da infecção, a chamada covid longa. A afirmação é de Clovis Artur Almeida da Silva, professor titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e chefe do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da instituição.


Durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, que terminou no sábado (7) em Goiânia (GO), o professor aponta que a imunização é importante principalmente para crianças que tenham doenças crônicas, como as reumáticas. “As vacinas mostraram segurança e resposta imune adequada, inclusive nos pacientes reumáticos e que tomam imunossupressores. Mesmo que eles tenham taxas menores de resposta, as vacinas são adequadas para combater a infecção viral”, comenta.


A covid longa é definida como qualquer sintoma persistente após três meses da infecção pelo novo coronavírus ou pelas complicações que surgem depois de uma infecção pelo coronavírus. Associadas a essa covid longa podem surgir problemas sérios, como as miocardites (inflamação no músculo que bombeia o coração), os impactos emocionais e as dificuldades na aprendizagem. “O vírus agride o cérebro e leva a sequelas. Leva à ansiedade e depressão também. Mas ainda não está claro quanto tempo dura isso [esses impactos]”, acrescenta.


Um estudo  feito no Instituto de Pediatria do Hospital das Clínicas da USP e publicada na revista Clinics identificou sintomas prolongados da Covid-19 em 43% crianças e adolescentes três meses após a infecção. Os mais presentes foram dores de cabeça, reportadas por 19% do total de pacientes. Dores de cabeça fortes e recorrentes foram a queixa de 9%, mesmo percentual disse ter cansaço. A falta de ar afetou 8% e a dificuldade de concentração, 4%. 


O professor destacou que, nessa análise, cerca de 80% dessas crianças já apresentavam, antes da infecção, problemas crônicos como doenças reumatológicas, renais e oncológicas.


Esse estudo ainda identificou que as crianças que tiveram covid, passaram a apresentar mais dificuldades de aprendizado do que as que não tiveram a doença. “As crianças e adolescentes que tiveram covid tinham significativamente valores menores do domínio escolar de aprendizado mostrando que esses pacientes, possivelmente, vão ter impacto no rendimento escolar, no aprendizado escolar”.


Para prevenir a Covid-19 e a covid longa, reforçou o professor, é importante que as crianças sejam vacinadas. E essas vacinas estão disponíveis gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde), em todo o território nacional.


Mas não é o que tem ocorrido no Brasil. Conforme boletim do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em agosto deste ano, apenas 11,4% das crianças brasileiras entre seis meses e cinco anos tomaram ao menos duas doses da vacina contra a covid-19. “Já há estudos mostrando que a vacina diminuiu a covid, diminuiu a covid longa e que, quem tinha covid longa, melhorou mais rápido com a vacina. A grande questão é: vacine. Se tiver novas doses e novas vacinas, continue sendo vacinado”, aconselha o professor.


* A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Reumatologia.


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