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Cetamina

Usada por millennials e em festas, droga do caso Djidja pode tirar usuário da realidade

Isabella Menon - Folhapress
05 jun 2024 às 11:05

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- Reprodução/Instagram
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A morte da empresária Djidja Cardoso, que atuou de 2016 a 2020 como a personagem sinhazinha do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins, chamou a atenção para o uso irregular da cetamina.

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A droga, também chamada de ketamina e special key, é conhecida por ser consumida em festas, principalmente por millennials (na faixa de 25 a 40 anos). A Polícia Civil do Amazonas suspeita que a morte de Djidja esteja ligada exatamente ao uso abusivo da substância.

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O uso terapêutico da droga, que é regulamentado, ajuda no combate à depressão crônica. O problema, dizem os especialistas, é o uso recreativo da cetamina, feito sem supervisão e que pode gerar riscos para a saúde do usuário.


"Veneno ou remédio? A diferença é a dose e a maneira que se usa", resume o psiquiatra Vinicius Benício, professor da Universidade Municipal de São Caetano. "[O uso recreativo] pode piorar bastante episódio depressivo", explica ele. "Por outro lado, é usada para tratamento de refratários de depressão grave com ideação suicida, mas em ambiente hospitalar com uso endovenoso, subcutâneo ou spray nasal".

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De acordo com o psiquiatra Dartiu Silveira, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a droga causou uma verdadeira revolução no tratamento de depressão crônica.


Apesar de apresentar um risco menor do que drogas como cocaína e opioides, o uso sem controle da cetamina cria uma série de problemas, diz ele: pode deixar o usuário em estado de vulnerabilidade, ou causar uma dissociação profunda.

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No caso do uso e manutenção diária da substância, a pessoa pode acabar vivendo uma espécie de realidade paralela fantasiosa. "Foi isso que aconteceu com a Djidja e a família. Eles estavam na brisa o tempo inteiro de cetamina", diz Uno Vulpo, médico especialista em redução de danos.


Segundo ele, a substância é utilizada principalmente por millenials e rejeitada pela geração Z, que não costuma procurar substâncias inaláveis.

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Benício afirma que a substância entra na categoria das "club drugs", mais comuns em casas noturnas, assim como também HGB, MD, LSD e lança perfume.


"A cetamina é mais associada ao público LGBT, principalmente homens gays e mulheres trans", diz. Ele aponta ainda que a população trans marginalizada ou em situação de rua também tem feito o uso, apesar do custo proibitivo.

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Em grupos de WhatsApp, traficantes oferecem a substância por caixas com 30 unidades por R$ 6.900, R$ 230 por frasco. Também é comum encontrar sua venda em aplicativos como Grindr.


O psiquiatra aponta que a droga também cria um distanciamento afetivo e, por vezes, dissociativo. Por isso, acaba sendo muito usada por quem está passando por algum tipo de sofrimento, além de profissionais de sexo.

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Levantamento realizado pela Polícia Federal aponta que a apreensão da substância cresceu no pós-pandemia. Em 2021, por exemplo, foram realizadas 4 apreensões, com um total de 351,47 g de cetamina. Em 2023 foram 22 apreensões, com mais de 4 kg da substância.


A maior parte desses casos aconteceu em São Paulo –das 37 apreensões da droga de 2021 a 2024 (até março apenas), 23 foram na capital paulista.


"Na pandemia aumentaram muitos casos de depressão e de ansiedade e quando aumenta casos de depressão e ansiedade, aumenta o uso de substâncias, tanto o álcool quanto ilícitas, como ketamina", afirma Silveira.


Apesar disso, o delegado Carlos Castiglioni, do Denarc Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes de São Paulo) considera que o uso da substância não virou uma "praga".


Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que o Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos) acompanha com atenção o uso de cetamina e ressalta os riscos do uso não terapêutico da substância.


A pasta avalia a elaboração de um boletim específico sobre o uso não terapêutico de cetamina.


A droga usada para fins recreativos costuma ser ligeiramente diferente daquela usada nos tratamentos contra depressão, apontam os especialistas. Isso porque a substância consumida em festas em geral é a versão da cetamina utilizada como sedativo de cavalo –ou seja, não é o mesmo medicamento usado nas clínicas para tratamento de humanos.


Porém, é preciso cuidado no caso do uso recreativo e irregular. "É uma cetamina um pouco modificada, porque é a veterinária. Embora a molécula seja muito parecida, tem características um pouco diferentes nos efeitos", afirma Silveira, da Unifesp.


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