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Taxas de eficácia de vacinas contra Covid-19 não são diretamente comparáveis, dizem especialistas

Everton Lopes Batista - Folhapress
18 jan 2021 às 13:02

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- iStock
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A corrida por uma vacina contra o coronavírus Sars-CoV-2 ganhou um placar competitivo nos últimos meses com a divulgação das taxas de eficácia, tomadas por muitos como a prova inflexível de que um imunizante é superior ao outro.


Porém, é impossível comparar diretamente as taxas de eficácia divulgadas pelas desenvolvedoras das vacinas, dizem especialistas.

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Cada estudo tem sua metodologia própria, em que estão definidos aspectos como o perfil dos voluntários (idade, atividade profissional, comorbidades etc.) e os critérios para definir quais sintomas indicam necessidade do exame laboratorial (RT-PCR) para a confirmação de um caso de Covid-19, entre outros fatores.

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Ainda que feitos com um mesmo imunizante, estudos diferentes chegam a valores distintos de eficácia, um número que é mais uma estimativa que pode variar para mais ou para menos. A vacina Coronavac, por exemplo, teve um resultado de 50,4% no estudo brasileiro, 91,2% na Turquia e 65,3% na Indonésia. O imunizante da estatal chinesa Sinopharm chegou a 86,% em uma pesquisa feita nos Emirados Árabes Unidos e a 79,3% em um estudo chinês.

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Em nota, a SBI (Sociedade Brasileira de Imunologia) faz uma comparação entre os estudos com vacinas disponíveis e afirma que a pesquisa com a vacina Coronavac conduzida pelo Instituto Butantan no Brasil abriu margem para para detecção de mais casos por diagnóstico molecular (RT-PCR) do que nos outros estudos. Isso influencia a estimativa final de eficácia obtida no estudo.


No estudo do Butantan, foram considerados casos de Covid-19, encaminhados para confirmação por RT-PCR, a presença de um ou mais dos seguintes sintomas: febre ou calafrios, tosse, falta de ar ou dificuldade para respirar, fadiga, dor muscular, dor de cabeça, perda de olfato ou paladar, dor de garganta, congestão nasal ou coriza. Além disso, entraram na lista sintomas que não foram considerados pelos outros estudos, mas que fazem parte do quadro clínico que indica a doença, como náusea, vômito e diarreia.

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A Coronavac é, até o momento, a única vacina testada exclusivamente em profissionais de saúde que trabalham na linha de frente, cuidando de pacientes da Covid-19. Essa é a atividade de maior risco para o contágio.


Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa do instituto e responsável pelo ensaio, disse na terça-feira (12), quando os dados mais completos foram divulgados, que na vida real, na população em geral, o resultado tende a ser de maior eficácia da vacina.

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O estudo da vacina desenvolvida pela empresa de biotecnologia americana Moderna, por exemplo, considerava caso de Covid-19 a incidência de dois sintomas leves (febre, arrepios, dor no corpo, dor de cabeça, dor de garganta, perda de olfato ou paladar), com exame RT-PCR para confirmação, ou um sintoma grave como falta de ar, tosse. O estudo considerava ainda o diagnóstico radiológico para encaminhar ao teste molecular.


A vacina criada pela farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford teve a eficácia geral apresentada (70%) baseada em resultados de quatro estudos diferentes feitos no Reino Unido, Brasil e África do Sul. Os sintomas considerados nos estudos do Reino Unido e Brasil eram os mesmos (não incluíam dores no corpo, cabeça e garganta), mas o estudo da África do Sul incluiu outras manifestações na lista.

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"Por que cada estudo fez um cálculo diferente? Embora isso não pareça fazer sentido, estamos vivendo um momento histórico em que nunca houve tantas vacinas diferentes ao mesmo tempo para uma mesma doença. Não existe padronização mundial para estudos de fase 3 -embora a Food and Drug Administration [FDA, agência reguladora dos Estados Unidos] recomende isso. A SBI endossa fortemente essa recomendação", diz a instituição na nota.


Para Daniel Tausk, matemático e professor no IME-USP (Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo), a eficácia de duas vacinas diferentes só pode ser comparada se fosse realizado um único estudo com as substâncias.

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Assim, um grupo de voluntários seria dividido em dois e cada grupo receberia uma imunização diferente, sem que participantes e pesquisadores saibam quem recebeu qual vacina. Os dois grupos deveriam compor populações comparáveis, com idades semelhantes e uma mesma proporção de homens e mulheres, por exemplo. As definições de caso da doença deveriam ser as mesmas para todos. Só assim seria possível fazer uma comparação mais correta, diz o matemático.


"Acho que ainda não houve uma compreensão exata em relação a essa eficácia. Eficácias entre estudos diferentes não são comparáveis. Para compararmos, poderíamos ter o mesmo desenho, a mesma população alvo. Quando comparamos com estudos assemelhados, a vacina Coronavac na população geral na Turquia teve 91% de eficácia", disse Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em coletiva de imprensa na quarta-feira (13).

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Cientistas e leigos afirmaram que houve sentimento de decepção após a divulgação da eficácia geral da Coronavac, mesmo este sendo ainda um resultado muito bom, especialmente no contexto da pandemia.


Segundo o cardiologista Luis Correia, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, onde dirige o Centro de Medicina Baseada em Evidência, a divulgação de taxas altas de eficácia de vacinas como a da Pfizer/BioNTech (95%) e Moderna (94%) deixou nosso pensamento ancorado, ou suscetível a considerar números mais baixos como sendo muito menores do que eles realmente são.

"50% de eficácia é cortar pela metade o risco de uma pessoa se infectar com a doença, e isso é muito bom, ainda mais considerando o custo pequeno, pois a vacina aparentemente é muito segura e fácil de ser distribuída. É algo semelhante ao que temos nas vacinas de influenza por exemplo, uma vacinação de grande importância para a população em geral", diz Correia.


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