A vacinação contra a Covid-19 fez com que, na cidade de São Paulo, 81,8% da população com mais de 18 anos desenvolvessem anticorpos neutralizantes contra o coronavírus em setembro, quando 6 em cada 10 adultos já tinham recebido ao menos uma dose do imunizante.
Esse valor, aliado ao avanço crescente na vacinação nos últimos dois meses, indica um arrefecimento da pandemia no município, como indicado nas últimas semanas pela redução nos índices de novos casos, hospitalizações e mortes.
Já a parcela de indivíduos que possuem anticorpos específicos contra o Sars-CoV-2 é de 52,8%, equivalente a quase 5 milhões de paulistanos. Nas regiões mais pobres do município, esse número chega a 62,2%, quase 9 pontos percentuais a mais do que nas regiões mais ricas, de 43,1%.
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Os resultados fazem parte da sétima etapa do mapeamento sorológico da cidade realizado pelo laboratório Fleury em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria, o antigo Ibope), Instituto Semeia e Todos pela Saúde.
O estudo sorológico da população adulta de São Paulo utiliza dois tipos de teste a fim de localizar no sangue anticorpos específicos para o coronavírus. Um deles busca os anticorpos IgM (produzidos no início da infecção), IgG (de memória) e Ig (totais); o outro, anticorpos neutralizantes.
Os anticorpos neutralizantes são capazes de bloquear a entrada do vírus nas células por impedir a ligação da proteína S do Spike (usada pelo vírus para infectar as células) e são importantes fatores de proteção, mas não os únicos, contra formas graves da doença. Em geral, essas moléculas são produzidas após a vacinação contra Covid-19.
Já a resposta imune do tipo IgG e IgM contra o Sars-CoV-2 (também chamada de proteção contra a nucleoproteína do vírus) é formada após uma infecção natural do coronavírus.
Ela pode, alternativamente, ocorrer pela vacinação com Coronavac, a única em uso no país que utiliza uma tecnologia de vírus inteiro inativado, produzindo uma defesa no corpo contra todas as partes do vírus, e não apenas a proteína Spike.
Não houve uma diferença significativa da prevalência de anticorpos neutralizantes nos distritos de renda mais alta em comparação aos de renda mais baixa, diferente do observado nas etapas anteriores.
"Esta última fase mostra a importância da vacinação e como, caso a vacinação tivesse começado antes, a maior prevalência de anticorpos contra a Covid em indivíduos mais pobres em relação aos mais ricos não seria observada", afirma a pesquisadora e diretora-executiva do Ipec, Márcia Cavallari Nunes. "Esses indivíduos sofreram mais com a doença por não conseguirem parar [as atividades presenciais] e se exporem mais ao vírus", completa.
A pesquisa foi realizada entre os dias 9 e 20 de setembro, ou seja, logo após o término da aplicação de primeira dose em toda a população adulta no município. O avanço da vacinação permitiu incluir, já a partir da sexta etapa, o teste de anticorpos do tipo neutralizante no sangue.
"Cerca de um terço da população já tinha anticorpos neutralizantes ao final da sexta etapa, em 1? de maio, e dois terços não possuía. Agora, vemos que esse número subiu para 81,8%, ao final desta sétima etapa, e o número de pessoas em que não foi possível detectar anticorpos neutralizantes caiu de 66,7% para 18,2%, o que é um resultado da vacinação", explica autor principal do estudo, o biólogo e professor da USP Fernando Reinach.
"Não temos como saber qual é esse número hoje, mas é provável que ele já seja maior, de pessoas com anticorpos seja por vacinação seja por infecção prévia", afirma ele.
O levantamento conclui que com cerca de 82% da população adulta já apresentando anticorpos neutralizantes e com o atual ritmo de vacinação, é provável que a pandemia na cidade de São Paulo continue em trajetória de queda –desde que não apareçam novas variantes do vírus.
Nesta nova fase, a pesquisa do SoroEpiSP dividiu a cidade em 160 setores. Em cada um deles, foram sorteadas oito residências aleatoriamente e colhidas 1.055 amostras de sangue de indivíduos maiores de 18 anos. Além disso, foi aplicado ainda um questionário a esses moradores.
A primeira etapa do projeto, concluída em maio de 2020, comparou os bairros com maior número de casos e óbitos por cem mil habitantes e apontou que 5% da população já havia entrado em contato com o vírus.
A segunda etapa, concluída em junho do ano passado, mostrou uma prevalência em toda a população de 11,4%. Na terceira fase, realizada em julho de 2020, a soroprevalência observada foi de 17,9%.
Em outubro, a quarta fase indicou que 26,2% da população adulta de São Paulo já possuía anticorpos contra o vírus. A quinta fase, que ocorreu em janeiro deste ano, apontou um terço da população adulta com infecção prévia da doença.
Por fim, a sexta etapa, realizada entre os dias 22 de abril e 1? de maio, já indicava 41,6% dos adultos com anticorpos no sangue contra o Sars-CoV-2. À época, apenas 8,6% da população adulta da cidade já havia recebido as duas doses da vacina contra Covid.