Desapareceu do site do Ministério da Saúde nota afirmando que a revista científica The American Journal of Medicine havia publicado um artigo supostamente comprovando a eficácia de drogas que compõem o chamado "tratamento precoce" contra Covid-19.
As melhores evidências científicas apontam que não há tratamento precoce contra a doença.
A nota estava no site do ministério até, pelo menos, o dia 18, segundo o Internet Archive, repositório que faz cópias de páginas da internet para facilitar pesquisas. No dia 21, o link para a postagem do ministério já apresentava erro.
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O trabalho publicado online em agosto de 2020 na revista em nenhum momento se propõe a provar a eficácia de um suposto tratamento precoce. O artigo discutia possibilidades de abordagens caso estudos clínicos não fossem viáveis ou não apresentassem orientações a tempo. Dessa forma, o artigo falava que outras informações científicas deveriam ser levadas em conta.
Mesmo assim, os autores diziam que "futuros estudos randomizados devem confirmar, rejeitar, refinar e expandir os princípios".
Apesar disso, o site do ministério disse, em nota de 2 de janeiro de 2021, que o artigo "comprova a eficácia do tratamento precoce na evolução da Covid-19".
O texto da pasta citava zinco, azitromicina e hidroxicloroquina como drogas para Covid-19, "amplamente utilizadas no protocolo do Governo Federal no enfrentamento à pandemia". Dizia ainda que "a política de atuação no tratamento precoce tem sido reforçada pelo ministro", o general Eduardo Pazuello.
Permanece online a postagem no Twitter com as informações incorretas.
Recentemente, Pazuello negou, em coletiva de imprensa, que ele ou o ministério indicassem medicamentos contra a Covid, mas só um "atendimento precoce", que seria a busca de ajuda médica logo.
"Nós defendemos, incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico. E o médico faça o diagnóstico clínico do paciente. Este é o atendimento precoce. Que remédios o médico vai prescrever, isso é foro íntimo do médico com seu paciente. O ministério não tem protocolos sobre isso, nem poderia ter. Tratamento é uma coisa, atendimento é outra", afirmou Pazuello.
A afirmação não é verdadeira. O ministério já citou o "tratamento precoce" e cloroquina em diversos momentos da pandemia. Documentos da pasta, inclusive um recente associado ao caos pandêmico em Manaus, orientam a indicação de drogas não recomendadas por autoridades internacionais de saúde.
A reportagem procurou o editor responsável pela revista The American Journal of Medicine. "O artigo não diz que a cloroquina é uma terapia comprovada. Sugere que, baseado em dados in vitro, parecia boa ideia", diz Joseph Alpert, editor do periódico e professor da Universidade do Arizona, nos EUA. "Assim como o papa disse a Galileu que a Terra era o centro do nosso Sistema Solar –parecia uma boa ideia até então."
Procurado, o ministério informou que só conseguirá responder na quarta-feira (27).