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Somatropina

Farmacêuticas tiram do mercado hormônio para deficiência de crescimento

Leonardo Zvarick - Folhapress
25 nov 2023 às 15:07

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- Pixabay
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Duas multinacionais da indústria farmacêutica anunciaram recentemente o corte no fornecimento de somatropina, conhecida como hormônio do crescimento, no mercado brasileiro. O medicamento produzido pela Novo Nordisk está indisponível desde julho, ainda sem previsão de reabastecimento. Já a Merck vai interromper a distribuição em janeiro de 2024, também por tempo indeterminado.


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O medicamento é indicado para o tratamento de distúrbios do crescimento em crianças e adolescentes. Pacientes devem buscar orientação médica para substituir a medicação por outra com o mesmo princípio ativo. As alternativas terapêuticas disponíveis no país estão com abastecimento regular, segundo as fabricantes.

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Questionadas, as farmacêuticas atribuíram o desabastecimento a dificuldades logísticas e produtivas, e disseram que outros países também estão sendo afetados. Segundo a dinamarquesa Novo Nordisk, "intercorrências na implementação e operação de uma nova linha de envase" resultaram na produção abaixo do previsto. A alemã Merck, por sua vez, disse que está "trabalhando em todo o mundo para acelerar nossos processos e aumentar nossa capacidade produtiva para solucionar essa situação".

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O corte no fornecimento pelas multinacionais não deve afetar a distribuição do hormônio pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A medicação da rede pública é produzida pelo laboratório brasileiro Cristália em parceria com o instituto BioManguinhos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).


O tratamento gratuito é garantido a crianças e adolescentes com deficiência comprovada do hormônio do crescimento (também conhecido pela sigla GH -growth hormone, em inglês) e meninas com síndrome de Turner (condição genética que provoca baixa estatura em mulheres). Cerca de 30 mil pacientes são atendidos pelo SUS atualmente.

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Há ainda outras indicações aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas disponíveis apenas na rede privada, mediante prescrição médica. Em geral, a somatropina é indicada para estimular o crescimento de crianças com alguma condição que inibe o crescimento -a lista inclui malformações, insuficiência renal crônica e algumas síndromes raras. O medicamento também é indicado para adultos com deficiência hormonal.


O uso mais amplo, porém, se dá para tratamento da chamada baixa estatura idiopática. "A palavra significa 'de causa desconhecida', quando fazemos todos os exames e não conseguimos determinar. É um grupo grande de pacientes, que pode abarcar 1% a 2% das crianças", explica o diretor do departamento de endocrinologia pediátrica da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), Sonir Antonini.

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"De cada 100 pacientes que tem problema de crescimento, 5% tem deficiência hormonal. Dos 95% restantes, o maior contingente é baixa estatura idiopática", acrescentou. Segundo o médico, o GH é indicado quando outras doenças tratáveis já foram descartadas como causa da baixa estatura.


Médicos ouvidos pela reportagem alertam para o uso inadequado da somatropina por razões estéticas e comportamentais, inclusive em crianças sem deficiência hormonal para que cresçam mais.

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"A Anvisa é muito criteriosa na definição de baixa estatura, a norma traz parâmetros muito claros e rígidos. Mas existe uma frouxidão na hora de prescrever e tem médicos que acabam prescrevendo para um monte de gente que oficialmente não tem indicação", afirma Margaret Boguszewski, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e vice-presidente do departamento de endocrinologia pediátrica da Sbem.


Segundo os especialistas, o medicamento tem nível alto de segurança e possui poucas contraindicações -o uso é vedado em crianças com diabetes e em tratamento de câncer.

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O aumento do uso sem indicação médica, contudo, preocupa os especialistas. Apesar de não possuir indicação na bula, o GH é amplamente utilizado para ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo. O medicamento é anunciado com esta finalidade em redes sociais, como Facebook e Telegram.


"O uso é seguro em doses adequadas e controladas, mas quando um adulto que já produz [o hormônio] toma em excesso, os riscos aumentam. Aí sim provoca diversos problemas articulares, a glicemia sobe, há risco aumentado de diabetes, sobe a pressão arterial e pode até favorecer a formação de câncer", explica Antonini, que é professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP (Universidade de São Paulo).

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Em abril, o CFM (Conselho Federal de Medicina) publicou uma resolução que proíbe a prescrição de esteroides androgênicos anabolizantes para fins estéticos. A lista inclui 31 substâncias, entre elas a somatropina.


Segundo Annelise Meneguesso, conselheira da entidade, a medida atendeu demandas de oito sociedades médicas, como cardiologia, dermatologia e endocrinologia -especialidades que estariam lidando com as "sequelas" do uso inadequado desses hormônios.


"Nós tínhamos que fazer algo em relação a essa má prática. Se eu oferecer um tratamento a um paciente que pode deixá-lo menos saudável do que quando ele entrou, eu não estou sendo ético. Fora das indicações formais a prescrição não se justifica, por causa dos riscos maiores que os benefícios", afirmou a endocrinologista.


A medida prevê punições da advertência à cassação do registro profissional. Segundo Meneguesso, o CFM julga com frequência denúncias de descumprimento da regra.


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