O Rio de Janeiro já colocou fim no uso de máscara até mesmo em ambientes fechados. Bares e restaurantes também se preparam para uma movimentação nacional pelo fim das máscaras.
Mas especialistas ouvidos pela reportagem, apesar de concordarem que vivemos um momento da pandemia de Covid ideal para flexibilização, pedem um pouco de calma e orientações sobre locais onde ainda seria importante o uso da proteção contra o coronavírus.
A cidade do Rio de Janeiro, na segunda (7), tornou-se a primeira capital no país a desobrigar o uso de máscaras em locais fechados. No estado, Duque de Caxias também liberou o uso em áreas abertas e fechadas. Em Santa Catarina, Chapecó e Rio do Sul derrubaram a obrigatoriedade.
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No estado de São Paulo, ainda nesta semana a máscara deverá deixar de ser obrigatória em espaços públicos abertos, assim como ocorreu no Distrito Federal e em Belo Horizonte. O anúncio do governador João Doria (PSDB) é esperado para esta quarta-feira (9).
Especialistas ouvidos pela reportagem concordam que é o momento de tirar máscaras nas ruas, considerando que a chance de contaminação por Covid em ambientes abertos e bem arejados é consideravelmente menor.
"Isso aconteceu muito mais rápido em vários outros países no mundo, países que até controlaram bem a pandemia. É um pouco surpreendente que siga vigente no Brasil até hoje", afirma Vitor Mori, físico pesquisador na Universidade de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR.
De toda forma, mesmo que o risco ao ar livre seja muito menor, ainda não é zero, diz Mori. Em locais abertos, mas com uma grande quantidade de pessoas muito próximas, conversando e cantando, por exemplo, deve-se ter atenção.
Se a liberação para áreas abertas recebe apoio, não se pode dizer o mesmo para ambientes fechados, onde surgem outras questões a serem levadas em conta.
"Em espaço fechado eu acho complicado a liberação ampla e irrestrita do uso da máscara", afirma o pesquisador da Universidade de Vermont. "Eu acho que alguns locais merecem um pouco mais de atenção, como transporte público, ambientes hospitalares e casas de repouso."
Ou seja, locais onde há uma grande concentração de pessoas usualmente com pouco espaço entre si; locais em que as pessoas estão doentes (talvez até mesmo com Covid) ou apresentam problemas de saúde que as fragilizam; e locais onde se encontra uma das populações mais vulneráveis aos casos graves de Covid.
Mori, inclusive, afirma que, em locais fechado onde há maior risco, poderiam ser exigidas máscaras com maior potencial de proteção, do tipo PFF2, com explicações sobre o modo de uso e campanhas de distribuição.
"Eu acho que faltam políticas públicas que sejam focalizadas, que atuem onde o risco está", diz.
O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), vê como algo natural o início das flexibilizações de uso de máscaras, mas também prega cautela em ambientes de maior risco.
"Seria interessante manter a obrigatoriedade em serviços de saúde. As pessoas que vão estão doentes, então você diminui a transmissão com máscaras. As pessoas com síndrome gripal vão no serviço e podem transmitir para profissionais de saúde, para outros pacientes que estão debilitados", exemplifica Croda.
Segundo Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a liberação em áreas internas é muito precipitada.
"Temos providências mais urgentes do que liberar o uso de máscaras", diz a especialista, que cita a necessidade de incentivar as doses de reforço –somente cerca de 31% da população tomou– e a discussão de quarta dose para alguns grupos.
Parte dos pesquisadores diz que a discussão da liberação em locais fechados deveria ficar mais para frente, a partir do momento em que fossem mais altos os percentuais de vacinados com reforço e crianças imunizadas com duas doses.
É também necessário observar o risco do inverno, dizem, momento no qual costumam crescer, independentemente da Covid, os casos de doenças respiratórias, as quais também são passíveis de prevenção pelo uso de máscara.
Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, avalia que a liberação de máscaras em locais fechados tem que ser analisada pela realidade local, com base nos dados dos municípios, mas que, neste momento, pouco depois do Carnaval, ainda deve haver restrições.
Por isso, para Richtmann, mesmo com os dados positivos da cidade do Rio, como uma baixa taxa de positividade (ou seja, o percentual de resultados positivos para Covid em meio a todos os testes realizados), um pouco mais de cuidado é necessário.
"Estamos agora fazendo dez dias desde o começo do Carnaval. Ainda estamos no período de observações, embora eu esteja otimista", afirma.
Segundo Croda, apesar do momento mais positivo em relação à pandemia, deve-se ter em mente que as flexibilizações podem retroceder se o cenário voltar a ficar desfavorável. "Isso tudo pode mudar se surgir uma nova variante."
Stucchi aponta ainda o risco de uma adesão menor ao uso da proteção facial caso seja necessário retroceder na flexibilização.
O pesquisador da Fiocruz também afirma que deveria haver maior atuação do Ministério da Saúde, dando orientações quanto aos indicadores que devem prevalecer para a flexibilização das máscaras. Croda cita, como exemplo de boa medida de observação, o impacto de infecções por Covid nos serviços de saúde, para evitar sobrecarga na rede.
Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, disse, após o anúncio da flexibilização do uso de máscaras, que há recomendação para que pessoas imunossuprimidas, com comorbidades graves ou que não se vacinaram continuem usando máscara.
Além desses grupos, os especialistas chamam a atenção para os idosos e lembram os cuidados que pessoas com sintomas gripais devem continuar a ter, como, além do uso de máscara, evitar contato com outras pessoas.