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Aumento alarmante

Entidades médicas pedem que Anvisa fiscalize produtos com ação hormonal usados em chips da beleza

Patrícia Pasquini - Folhapress
27 set 2024 às 16:03

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- Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Especialistas definem como alarmante o aumento do uso de implantes hormonais manipulados não aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), conhecidos como chips da beleza.

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Em contrapartida, o risco à saúde é alto. Os efeitos adversos mais frequentes são os cardiovasculares, como infarto, derrame, embolia, arritmia, hipertensão e dislipidemia (doença ocasionada pelo excesso de colesterol e triglicérides no sangue).


O assunto foi discutido durante o 79º Congresso Brasileiro de Cardiologista, realizado em Brasília, de 20 a 22 de setembro.

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Estes produtos contêm esteroides anabolizantes e outras substâncias com ação hormonal. São comercializados por médicos e até por pessoas fora da área da saúde sem controle e fiscalização. Não há respaldo científico para fins estéticos e de performance, e nem dados de eficácia e segurança.


Segundo Clayton Macedo, presidente do Departamento de Endocrinologia do Exercício da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e da Abeso (Associação Brasileira para o uso da Obesidade e Síndrome Metabólica), o uso desses produtos também é relacionado a casos de dano no fígado, hepatite medicamentosa e infertilidade.

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Preocupadas com o cenário, no fim de agosto, 19 sociedades e entidades médicas se uniram para pedir à Anvisa a proibição da fabricação, importação, manipulação, comercialização, distribuição, armazenamento, transporte e propaganda de medicamentos com ação hormonal em tipos farmacológicos, combinações, doses ou vias não registradas na agência.


Entre as entidades que assinaram o documento estão a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

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Do encontro saiu uma proposta de resolução contra os implantes hormonais não aprovados, que foi entregue à Anvisa.


"Ninguém é contra a venda de produto aprovado. O que queremos é que não seja comercializado o que não foi aprovado. A Anvisa proíbe propaganda de implantes hormonais, mas as empresas fazem abertamente.

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 Algumas captam voluntários nas redes sociais para cursos de hormônios. Eles servem de cobaia para os médicos aprenderem a aplicar esses implantes. E a propaganda é que vão levar a felicidade para os indivíduos. É algo bem grave", relata Macedo.


Segundo o médico, já ocorreram duas reuniões com a Anvisa para tentar colocar a proposta em discussão -a última na quarta-feira (25).

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As sociedades médicas afirmam que a Anvisa precisa regulamentar a manipulação de medicamentos somente pela via de administração na qual o medicamento foi registrado. Uma via diferente necessita de

dados científicos publicados de eficácia, segurança e desfechos a longo prazo.


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"Deixamos bem claro nossa insatisfação e a urgência da matéria. Se comprometeram em dar celeridade. Ficaram de discutir com a chefia. Vamos nos preparar para judicializar em uma ação civil pública", comenta Macedo.


A reportagem questionou a Anvisa sobre o assunto na tarde de sexta-feira (20). Na quarta (25), o órgão disse que tem o assunto como prioridade e que "vem realizando reuniões com associações médicas sobre o tema".


As sociedades e entidades médicas também idealizaram o Programa Vigicom-Hormônios. É uma plataforma que funciona como um observatório de dados do mau uso de hormônios e suas complicações. De início, apenas médicos terão acesso. Num segundo momento, será aberta a todos.


MULHERES CADA VEZ MAIS JOVENS PROCURAM PELO CHIP DA BELEZA


Entre os dispositivos não aprovados utilizados indiscriminadamente está o chip da beleza -implante hormonal subcutâneo colocado principalmente nos glúteos e abdômen.


De acordo com Alexandra Oliveira de Mesquita, diretora do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia e cardiologista do Hospital de Base do Distrito Federal, a busca pelo corpo perfeito é responsável pelo aumento do uso do chip, principalmente por mulheres cada vez mais jovens.


"Esse aumento acarreta um grande ônus para a saúde pública e privada. Primeiro pelo número exagerado de exames solicitados, muitas vezes inúteis e repetidos, e depois pelos gastos com as complicações do uso desses dispositivos", diz a cardiologista.


No congresso de cardiologia, a médica alertou sobre os malefícios do produto à saúde do coração da mulher.


O chip pode provocar hipertensão, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, a trombose, a embolia e a deficiência cardíaca. Há outras consequências como queda de cabelo, acne, aparecimento de pelos pelo corpo, inclusive na face, aumento do clitóris, engrossamento irreversível da voz, atrofia mamária, alterações menstruais e infertilidade. Há ainda a possibilidade de desencadear uma alergia grave e levar a pessoa à morte.


Produzidos em farmácias de manipulação, esses dispositivos são implantados de forma indiscriminada, o que preocupa os médicos. São vendidos sem bulas, sem informações sobre os componentes e suas doses, e sem nota fiscal. Não há controle ou fiscalização.


"Nós não sabemos o que tem dentro desse chip, quanto tempo ela vai ficar com esse hormônio e como será liberado. Além disso, esses chips são implantados em qualquer lugar, em clínicas que não são fiscalizadas, sob anestesia local, e podem ser colocados por profissionais não médicos", afirma Alexandra de Mesquita.


Os chips da beleza misturam vários hormônios, substâncias e até medicamento. Entre eles, estão gestrinona, testosterona, estradiol, oxandrolona, metformina, ocitocina, NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo) e outras.


"O mais comum é gestrinona, um anabolizante derivado da progesterona, que foi usado no passado como anticoncepcional e usado para endometriose. Eles misturam com a própria testosterona, eles misturam com um remédio para a diabetes que chama metformina, que pode ter um efeito parcial no emagrecimento.

Pegaram um produto que o governo distribui e transformaram num produto de luxo", explica Macedo.


A repórter viajou a convite da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia)


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