O uso do plasma rico em plaquetas (PRP), além de ser uma das grandes apostas do mercado estético, é fonte de controvérsia. É a base do procedimento apelidado de "vampire facial" -popularizado por Kim Kardashian- e consiste na injeção de uma solução com alta concentração de plaquetas, extraídas do sangue do próprio paciente a partir de centrifugação, no rosto.
Leia mais:
Pesquisa aponta que 29% dos brasileiros têm algum medo com relação às vacinas
Uma a cada dez mortes no Brasil pode ser atribuída ao consumo de ultraprocessados, diz Fiocruz
Estados brasileiros registram falta ou abastecimento irregular de, ao menos, 12 tipos de vacinas
Saúde do homem é tema de live com médicos londrinenses em novembro
Com a promessa de regenerar as células, esse tipo de intervenção é grande aposta no mercado de medicina regenerativa, mas as agências reguladoras do Brasil ainda não bateram o martelo sobre seu uso.
O PRP não é regulamentado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e é considerado experimental em qualquer área da medicina pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Segundo o órgão médico federal, o procedimento continua a ser monitorado e passa por reavaliação na Comissão de Novos Procedimentos.
Segundo Maria Roberta Martins, médica e integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, existem estudos que sustentam a eficácia do PRP na estética, e vários países fazem uso da tecnologia, mas pesquisas "de maior nível de evidência científica" ainda são necessárias.
Apesar do caráter experimental e da falta de regulamentação da Anvisa, não é difícil encontrar dermatologistas e clínicas de estética que vendem o PRP. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o PRP só pode ser usado dentro de protocolos de pesquisa no Brasil, de modo que pacientes não podem ser cobrados.
A Folha contatou alguns estabelecimentos que anunciavam o procedimento na internet, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os preços variam, mas ficam na casa dos milhares de reais. Uma das clínicas consultadas cobra cerca de R$ 2.400 por sessão. Outra, varia de R$ 2.500 a R$ 3.000, mas depende de uma avaliação prévia.
Martins afirma que os riscos do procedimento são como os de outras intervenções cirúrgicas -como infecções. O uso do sangue e das agulhas torna o PRP delicado.
Nos Estados Unidos, o armazenamento descuidado do material em uma clínica no Novo México acendeu alertas vermelhos. Cinco pessoas contraíram HIV depois que algumas mulheres fizeram o "vampire facial" no lugar.
O spa, que também aplicava botox, tinha uma série de problemas de segurança contra infecções, como o armazenamento de tubos de sangue sem rótulo em uma geladeira da cozinha, ao lado de alimentos, e seringas espalhadas pelo local. Alguns frascos de sangue apresentavam sinais de reutilização.
Questionada sobre o tema da PRP especificamente, a Sociedade Brasileira de Dermatologia encaminhou duas notas publicadas no site do órgão em outubro de 2023 e março de 2024 sobre a necessidade de tomar cuidado com procedimentos, inclusive invasivos, realizados por profissionais que não são médicos.