Com cerca de 200 testes registrados e mais 300 aguardando aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Brasil ainda é um dos países que menos testam para o novo coronavírus.
Segundo o Ministério da Saúde, até o último dia 10, foram realizados 632 mil exames RT-PCR na rede pública do país, ou 3 testes a cada mil habitantes. Os EUA realizaram no mesmo período 66,6 testes a cada mil habitantes.
A Anvisa apresenta em sua página todos os testes para Sars-CoV-2 em fase de avaliação ou já registrados, além de novas tecnologias desenvolvidas em laboratórios passíveis de registro.
O método convencional por RT-PCR, considerado padrão ouro, consiste em buscar o RNA (material genético) do vírus no organismo, a partir de swab (espécie de cotonete) coletado do nariz e garganta. Detecta-se tanto quantidades baixas quanto uma presença mais forte do vírus no organismo.
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Idealmente, o teste é feito no início da infecção - entre o 3º e o 10º dia -, quando o vírus é expelido por gotículas da saliva ou do espirro.
Como o alvo é o material genético do vírus, o exame tem especificidade (quão específico o teste é para detecção do Sars-CoV-2) de 100% e sensibilidade (nível de precisão do teste; quanto mais alta, menor a taxa de falsos negativos) acima de 95%.
Em média, grandes laboratórios públicos processam cerca de 500 amostras por dia. A rede de diagnóstico paulista, coordenada pelo Instituto Butantan, processa cerca de 1.700 amostras por dia.
Há oferta de 59 kits RT-PCR no país, a maioria importada de países como China, Coreia do Sul e Estados Unidos, dos quais 33 possuem registro da Anvisa.
O RT-PCR é gratuito na rede pública. Na rede privada, o exame pode ser feito com pedido médico com preço de R$ 150 a R$ 470.
Recentemente, o Hospital Sírio-Libanês (HSL) divulgou novo teste com custo de R$ 95. De mesma especificidade e sensibilidade que o RT-PCR, o exame também busca o material genético do vírus, mas de forma mais simples e, por isso, mais barata.
A saliva é o material analisado, e o próprio paciente pode fazer a coleta. De acordo com o laboratório, a análise dura apenas uma hora. O HSL afirma ter capacidade de processar 100 mil exames por dia.
No momento, o exame não é ofertado para pessoas físicas, sendo disponível apenas para alguns laboratórios parceiros e o próprio HSL.
A rede de medicina diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein também patenteou um novo teste para Sars-CoV-2.
O método, conhecido como sequenciamento de nova geração, busca também o material genético do vírus. A partir de swab do nariz e da garganta, o RNA viral é identificado em um enorme conjunto de nucleotídeos (unidades que formam o DNA).
Com especificidade de 100% e sensibilidade de 90%, o teste tem capacidade de detectar o vírus já a partir do 1º dia de infecção, e será ofertado ainda a partir deste mês a um preço menor em comparação ao seu similar, hoje em torno de R$ 250. A capacidade de processamento esperada é de até 24 mil testes por semana.
O Fleury também desenvolveu tecnologia inédita para o diagnóstico da Covid-19, a espectrometria de massa, e passou a oferecer também esse exame desde o final de maio.
A técnica busca proteínas específicas do Sars-CoV-2, os nucleocapsídeos. As proteínas são isoladas de swabs colhidos do nariz e da garganta e quebradas em pedaços menores, que são medidos em uma curva de massa.
O período para realizar o exame é o mesmo do molecular -3º ao 10º dia- e sua especificidade também é de 100%, mas a sensibilidade alcançada até o momento é de 84%.
Uma vantagem do novo diagnóstico é que as amostras não precisam ser congeladas, podendo ser estocadas por até 5 dias em temperatura ambiente.
A capacidade de processamento da rede é de até 1.500 amostras por dia, e o resultado liberado em até 3 dias úteis. O valor ofertado ainda não foi definido, mas será cerca de 15% menor que o valor pago pelo RT-PCR, entre R$ 170 e R$ 180.
Já os testes sorológicos buscam anticorpos no sangue para o coronavírus, e há três tipos disponíveis: a quimioluminescência e a imunoabsorção enzimática (Elisa), que usam sangue venoso, e o teste imunocromatográfico, ou "teste rápido", feito com uma gota de sangue do dedo.
Os testes sorológicos identificam pessoas que já tiveram contato com o vírus e, por isso, devem ser feitos a partir do 10º dia de contágio.
Os testes de quimioluminescência e Elisa são processados em até 4 horas nos laboratórios e consistem em uma reação entre uma enzima acoplada ao anticorpo que se liga ao vírus (antígeno), gerando cor -no caso do Elisa- ou luz -quimioluminescência.
Diversos laboratórios disponibilizam testes sorológicos para Covid-19 -há cerca de 40 exames de diferentes empresas de biotecnologia registrados na Anvisa. Os preços variam de R$ 90 a R$ 380, e o tempo de liberação do laudo é, em média, 24h.
No início da pandemia, os testes sorológicos foram alvo de debate por sua baixa acurácia (precisão) e por apresentarem alta taxa de falso negativo, problema relacionado à baixa sensibilidade de alguns testes.
No final de maio, um teste da Roche com eficácia de 100% foi aprovado para uso no país. Segundo a empresa, a sensibilidade do novo exame, similar ao de quimioluminescência, é de 100%, com especificidade maior que 99,8%. A análise é feita em apenas 18 minutos.
Ainda sem preço definido, o teste estará disponível nas unidades parceiras dentro das próximas semanas.
Os testes imunocromatográficos resultam da ligação de amostra de ouro coloidal com o conjunto antígeno-anticorpo, criando uma banda quando há reação. Os aparelhos desses testes são semelhantes aos usados para testes de glicemia, onde é colhida uma gota de sangue da ponta do dedo no próprio aparelho. O resultado sai entre 10 e 30 minutos.
A acurácia desses testes, entre 60% e 70%, é muito baixa, afirmam especialistas, e por isso não apontariam com certeza se a pessoa já teve contato com o vírus.
Alguns laboratórios particulares, como Einstein, Labi Exames e Hermes Pardini, também oferecem o exame imunocromatográfico. O governo federal também distribuiu testes rápidos doados pela Vale para os estados e municípios para testar a população.
A aprovação por parte da Anvisa de testes rápidos para distribuição em farmácias causou polêmica entre entidades médicas que avaliaram o uso desses testes com cautela.
Eles correspondem ao maior contingente de testes listados na página da agência. São mais de 300 tipos, referentes a cerca de 75% de todos os testes que solicitaram aprovação do órgão, dos quais mais da metade ainda não possui registro aprovado.
Segundo a Anvisa, as compras dos produtos que abastecem o sistema público de saúde são descentralizadas e estão sob regimento da pasta de saúde. O Ministério da Saúde não respondeu os questionamentos da reportagem sobre quais testes estão sendo avaliados para compra no país nem sobre o prazo de entrega.