Na contramão do que dizem entidades médicas, o Ministério da Saúde lançou neste ano o aplicativo TrateCOV, que sugere a prescrição de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, a partir de uma pontuação definida pelos sintomas do paciente após o diagnóstico de Covid-19.
O aplicativo, indicado para auxiliar os profissionais de saúde na coleta de sintomas e sinais de pacientes contra a Covid-19, receita hidroxicloroquina em qualquer idade, não importa se for bebê ou idoso.
Entretanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alertaram em uma nota conjunta que as evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento precoce.
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"Pesquisas clínicas com medicações antigas indicadas para outras doenças e novos medicamentos estão em andamento. Atualmente, as principais sociedades médicas e organismos internacionais de saúde pública não recomendam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", disse em nota.
No site do Ministério da Saúde a informação é de que o TrateCOV sugere algumas opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada, sugerindo a prescrição de medicamento. A intenção é oferecer um tratamento precoce com uso de medicações antivirais.
O próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, lançou o aplicativo em Manaus. Até o momento, 342 profissionais já foram habilitados. A intenção é ampliar o uso para outras regiões do país.
Apesar do lançamento, o ministro tem mudado o discurso. Ele disse, nesta segunda-feira (18), que a pasta não tem protocolo sobre uso de medicamentos como a hidroxicloquina contra a Covid-19.
"Nós defendemos, incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico. E o médico faça o diagnóstico clínico do paciente. Este é o atendimento precoce. Que remédios o médico vai prescrever, isso é foro íntimo do médico com seu paciente. O ministério [da Saúde] não tem protocolos sobre isso, nem poderia ter. Não é missão do ministério definir protocolo para o tratamento. Tratamento é uma coisa, atendimento é outra", declarou Pazuello, em coletiva de imprensa.
Uma das primeiras missões de Pazuello quando assumiu a Saúde interinamente foi ampliar o uso da hidroxicloroquina para o tratamento contra a Covid, o que havia levado à saída de seu antecessor, Nelson Teich.
A pasta também já divulgou um gráfico em que associava, de forma errônea, a redução de mortes por Covid a uma primeira versão do documento (de maio do ano passado), citando como "tratamento precoce".
O presidente Jair Bolsonaro é um defensor do uso de cloroquina, ivermectina e azitromicina para o tratamento contra a Covid.
No sábado (16), o Twitter marcou como enganosa e potencialmente prejudicial uma publicação do Ministério da Saúde que colocava o "tratamento precoce" como estratégia de combate ao coronavírus.
Na manhã desta segunda, mesmo após diretores da Anvisa terem dito no domingo (17) que não há alternativa terapêutica contra a doença, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce.
"Não desistam do tratamento precoce. Não desistam, tá? A vacina é para quem não pegou ainda. E esta vacina que está aí [Coronavac] é 50% de eficácia. Ou seja, se jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia. Então, está liberada a aplicação no Brasil", disse Bolsonaro a apoiadores.