O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, trocaram críticas nesta sexta-feira (13) por causa da decisão da agência de suspender os estudos sobre a vacina Coronavac na segunda (3) após a morte de um voluntário.
Ambos atenderam a convite aprovado na quarta-feira (11) pela comissão mista do Congresso que monitora as ações de enfrentamento à Covid-19.
A vacina contra a Covid-19 é desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com Instituto Butantan. O motivo da suspensão foi a morte de um dos 13 mil voluntários dos testes do imunizante no Brasil. A principal suspeita dos investigadores ouvidos é a de que a pessoa, um químico de 32 anos, tenha cometido suicídio ou tido uma overdose. O boletim do caso, obtido pela Folha de S.Paulo, registrou como "suicídio consumado".
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A decisão da Anvisa gerou acusações de que a agência estaria sofrendo uso político -o presidente Jair Bolsonaro chegou a comemorar a suspensão temporária dos estudos.
Nesta sexta, Barra rebateu as críticas e negou qualquer interferência do tipo. "A Anvisa não deseja, não quer e passa longe de qualquer tipo de politização a respeito desta questão e de qualquer outra. É a mesma Anvisa que atuou na liberação dos testes rápidos, é a mesma Anvisa que atuou na liberação dos respiradores, é a mesma Anvisa que atuou nos insumos para que as pessoas fossem entubadas em UTIs. É a mesma."
O presidente da Anvisa também defendeu o corpo técnico da agência. "Se há alguma razão, se há alguma necessidade de que essas dúvidas pairem sobre a minha pessoa ou de qualquer outro diretor, que assim seja, mas não sobre o corpo técnico da agência, porque o corpo técnico continua", disse. "Os diretores passam; o corpo técnico continua. E essa decisão foi uma decisão técnica, reitero."
Dimas Covas, por sua vez, lamentou o episódio e afirmou que a interrupção não teve efeito prático sobre a condução dos estudos. "Na realidade, os efeitos maiores foram os efeitos políticos decorrentes da forma como isso aconteceu e do momento em que isso aconteceu", disse.
O diretor do Butantan negou ainda sofrer qualquer pressão do governador João Doria (PSDB) sobre os estudos. "O Butantan não tem nenhuma pressão política do nosso governo. Ao contrário, a pressão a que respondemos é a pressão da urgência", afirmou. "Nós temos a responsabilidade de fazer essa vacina, de trazer essa vacina o mais rapidamente possível, porque nós entendemos perfeitamente a gravidade do momento."
Ambos divergiram sobre a forma como a agência comunicou o Butantan a respeito da suspensão. Primeiro, Covas disse ter sido informado pela imprensa. Barra rebateu e afirmou que o instituto recebeu um ofício com a decisão 40 minutos antes que a notícia fosse publicada no portal da Anvisa na segunda-feira à noite.
Covas, então, reconheceu que o ofício havia sido enviado 21h04 da noite de segunda. "Só que eu pergunto: quem é que vai acessar a caixa postal do estudo às 21h04 da noite? Obviamente isso só seria acessado na manhã do dia seguinte, não existe um funcionário de plantão para acessar essa caixa de estudo", disse, lembrando que o estudo foi formalmente interrompido na manhã de terça.
Na audiência, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou a decisão de Bolsonaro de indicar o tenente-coronel da reserva Jorge Luiz Kormann para ocupar uma vaga na diretoria da Anvisa. Ele precisará passar por uma sabatina no Senado para ser confirmado no posto.
O senador disse que não vê condições de Kormann assumir o cargo. "O que me preocupa, em especial, são as manifestações do senhor Luiz Kormann", afirmou. "Ele fica fazendo postagem ressaltando os absurdos idiotas que aquele senhor chamado Luciano Hang [dono da Havan] fica reproduzindo por aí, em relação à vacina, em relação à pandemia do coronavírus."
Randolfe afirmou que Kormann compartilhou mensagens de empresários que atacam Doria e o Butantan. "No que depender do meu voto, e eu acho que no que depender do voto também dos demais colegas, não é possível nós avalizarmos a indicação para uma agência técnica de tanto fundamento científico, como a Anvisa, de alguém que é contra a ciência."
Kormann é secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, onde atua desde maio, quando o governo passou a aumentar o número de militares em postos-chave da pasta, mesmo em cargos especializados.
A indicação do militar, porém, chamou a atenção de servidores da Anvisa por sua falta de formação em saúde ou ampla experiência na área.
Recentemente, o Senado aprovou o nome de novos diretores à agência. Além de Barra, que foi confirmado como diretor-presidente, a lista reúne uma servidora de carreira da casa, um apadrinhado do bloco político centrão e uma médica que, nas redes sociais, tem se posicionado a favor do uso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 apesar da falta de evidências científicas. Questionada pela reportagem na ocasião, ela evitou comentar as publicações.