Os EUA vivem uma nova alta nos casos de Covid ao mesmo tempo que as crianças começam o ano letivo. A maioria das escolas vem retomando as aulas de modo presencial, e a vacinação pode ajudar a evitar novos surtos da doença.
Na semana de 19 a 26 de agosto, houve 204 mil novos casos de crianças infectadas nos EUA. Um mês antes, esta média estava em 38 mil infecções semanais.
Apesar da alta, as hospitalizações e mortes por Covid nessa faixa etária seguem muito baixas. Nos EUA, morreram pela doença 141 crianças menores de 4 anos e 313 na faixa entre 5 e 18 anos, segundo o CDC (Centro de Controle de Doenças), desde o começo da pandemia. Ao todo houve quase 640 mil óbitos por Covid-19 no país.
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Os EUA liberaram, em maio, a aplicação da vacina da Pfizer para maiores de 12 anos, e a ampliação da imunização para os mais jovens depende dos resultados de estudos clínicos. As fabricantes Pfizer e Moderna estão concluindo as análises, que incluem de bebês de seis meses a crianças de 11 anos, e a Pfizer deve terminar sua pesquisa primeiro.
"Estamos em condição de enviar os dados [dos estudos] para a FDA [órgão federal que aprova os medicamentos] em setembro, e mandar o pedido de aprovação no começo de outubro, o que nos coloca em um cronograma no qual a vacina pode estar disponível no fim do outono, mais provável no começo do inverno [dezembro], dependendo de quanto tempo a FDA levar para revisar o pedido", disse Scott Gottlieb, que integra o conselho de administração da Pfizer, à TV CBS, no domingo (29).
Ele avalia que a vacina deva ser liberada primeiro para maiores de cinco anos.
Em entrevistas recentes, Anthony Fauci, principal infectologista dos EUA, tem estimado que a FDA terá todos os dados necessários até outubro e que a liberação das doses poderia ocorrer antes dos feriados de fim do ano.
A FDA tem sido mais criteriosa na análise dos imunizantes para essa faixa etária. Em julho, o órgão determinou que Pfizer e Moderna dobrassem o número de crianças que participam dos estudos e ampliassem o tempo ao longo do qual elas seriam acompanhadas, de dois para seis meses.
"Como casos de Covid grave são raros em crianças, é preciso fazer estudos mais amplos, pois os
possíveis efeitos colaterais também serão mais difíceis de encontrar", explica Renato Kfouri, pediatra e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
"O percentual de mortes em crianças é baixo, mas no Brasil tivemos em torno de 2.000 mortes por Covid de menores de 20 anos. É menos de 1% do todo, mas são 2.000 mortes evitáveis, causadas por uma doença que já tem vacina", pondera.
Nos EUA, conforme a vacinação avança entre adultos, as crianças passam a concentrar uma maior quantidade de casos. Na soma dos dados desde o começo da crise, elas representam 14,6% das infecções, segundo dados da AAP (Associação Americana de Pediatras), mas em agosto passaram a ser 22,4% dos novos infectados.
A AAP defende que a liberação seja feita de modo mais rápido, pois avalia que os benefícios de começar logo a imunização infantil serão bem maiores do que eventuais riscos.
"Esperar pelo acompanhamento de seis meses atrapalhará significativamente a capacidade de reduzir o espalhamento da hiperinfecciosa variante delta", alertou a entidade, em uma carta pública.
Um dos pontos que geraram preocupação foi a ocorrência de inflamações cardíacas, como miocardite e pericardite, em adolescentes que tomaram vacinas de mRNA, como da Pfizer e Moderna. Um estudo, concluído em junho, mostrou que o problema afetou especialmente meninos com mais de 16 anos, mas em proporção baixíssima: 12,6 casos por milhão de doses aplicadas.
Os sintomas desapareceram depois de alguns dias.
Os EUA começaram a vacinar adolescentes em maio e foram seguidos por diversos países nos meses seguintes, como Canadá, Chile, França, Israel, Itália, Japão, México e Nova Zelândia, entre outros. No Brasil, apenas o imunizante da Pfizer foi aprovado para aplicação em crianças e adolescentes com idade entre 12 e 17 anos.
Em junho, a China foi o primeiro país a aprovar o uso de uma vacina da Covid para crianças. A Sinovac, que produz a Coronavac, obteve autorização para imunizar crianças a partir de três anos de idade. E, no começo de agosto, os Emirados Árabes Unidos liberaram o uso da vacina da chinesa Sinopharm para a mesma faixa.
Em agosto, a Anvisa negou autorização para a aplicação da Coronavac no Brasil para pessoas com idade entre 3 e 17 anos. O órgão disse que faltavam estudos para comprovar a eficácia do fármaco nessa faixa etária.