O prêmio Nobel em Física deste ano foi dedicado ao estudo de sistemas complexos, dentre eles os que permitem a compreensão das mudanças climáticas que afetam nosso planeta. A escolha coloca um carimbo definitivo de consenso sobre a ciência do clima.
Os pesquisadores Syukuro Manabe, dos Estados Unidos, e Klaus Hasselmann, da Alemanha, foram premiados especificamente por modelarem o clima terrestre e fazerem predições sobre o aquecimento global. A outra metade do prêmio foi para Giorgio Parisi, da Itália, que revelou padrões ocultos em materiais complexos desordenados, das escalas atômica à planetária, em uma contribuição essencial à teoria de sistemas complexos, com relevância também para o estudo do clima.
"Muitas pessoas pensam que a física lida com fenômenos simples, como a órbita perfeitamente elíptica da Terra ao redor do Sol ou átomos em estruturas cristalinas", disse Thors Hans Hansson, membro do comitê de escolha do Nobel, na coletiva que apresentou a escolha.
"Mas a física é muito mais que isso. Uma das tarefas básicas da física é usar teorias básicas da matéria para explicar fenômenos e processos complexos, como o comportamento de materiais e qual é o desenvolvimento no clima da Terra. Isso exige intuição profunda por quais estruturas e quais progressões são essenciais, e também engenhosidade matemática para desenvolver os modelos e as teorias que as descrevem, coisas em que os laureados deste ano são poderosos."
Eles vão dividir a bolada de 10 milhões de coroas suecas (R$ 6,25 milhões), na badalada premiação concedida pela Academia Real de Ciências da Suécia. Isso sem falar no prestígio que um Nobel traz à carreira de um cientista.
Para além da ciência, a escolha deste ano vem como um recado político para as delegações do mundo inteiro que devem se reunir na Conferência do Clima (COP) 26 da ONU (Organização das Nações Unidas), em Glasgow, Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro.
"Eu acho que é urgente que tomemos decisões muito fortes e nos movamos em um passo forte, porque estamos numa situação em que podemos ter uma retroalimentação positiva e isso pode acelerar o aumento de temperatura", disse Giorgio Parisi, um dos vencedores, na coletiva de apresentação do evento. "É claro que para as gerações futuras nós temos de agir agora de uma forma muito rápida."
COMO É ESCOLHIDO O GANHADOR DO NOBEL
A tradicional premiação do Nobel teve início com a morte do químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Em 1895, em seu último testamento, Nobel registrou que sua fortuna deveria ser destinada para a construção de um prêmio –o que foi recebido por sua família com contestação. O primeiro prêmio só foi dado em 1901.
O processo de escolha do vencedor do prêmio da área de física começa no ano anterior à premiação. Em setembro, o Comitê do Nobel de Física envia convites (cerca de 3.000) para a indicação de nomes que merecem a homenagem. As respostas são enviadas até o dia 31 de janeiro.
Podem indicar nomes os membros da Academia Real Sueca de Ciências; membros do Comitê do Nobel de Física; ganhadores do Nobel de Física; professores física em universidades e institutos de tecnologia da Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia e Noruega, e do Instituto Karolinska, em Estocolmo; professores em cargos semelhantes em pelo menos outras seis (mas normalmente em centenas de) universidades escolhidas pela Academia de Ciências, com o objetivo de assegurar a distribuição adequada pelos continentes e áreas de conhecimento; e outros cientistas que a Academia entenda adequados para receber os convites.
Autoindicações não são aceitas.
Começa então um processo de análise das centenas de nomes apontados, com consulta a especialistas e o desenvolvimento de relatórios, a fim de afunilar a seleção. Finalmente, em outubro, a Academia, por votação majoritária, decide quem receberá o reconhecimento.
HISTÓRICO RECENTE DO NOBEL DE FÍSICA
A descoberta de buracos negros e o impacto disso na compreensão do Universo levaram o Nobel de Física de 2020. A láurea foi dividida entre Roger Penrose, Reihard Genzel e Andrea Ghez.
Ghez é somente a quarta mulher premiada com o Nobel de Física, entre 216 homenageados.
Já em 2019, o prêmio ficou James Peebles, Michel Mayor e Didier Queloz, mais uma vez, por pesquisas cósmicas, que ajudaram a explicar melhor o funcionamento do Universo.
Peebles ajudou a entender como o Universo evoluiu após o Big Bang, e Mayor e Queloz descobriram um exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar) que orbitava uma estrela do tipo solar.
Pesquisas com laser foram premiadas em 2018, com láureas para Arthur Ashkin, Donna Strickland e Gérard Mourou.
Indo um pouco mais longe, o prêmio já esteve nas mãos de Max Planck (1918), por ter lançado as bases da física quântica e de Albert Einstein (1921), pela descoberta do efeito fotoelétrico. Niels Bohr (1922), por suas contribuições para o entendimento da estrutura atômica, e Paul Dirac e Erwin Schrödinger (1933), pelo desenvolvimento de novas versões da teoria quântica, também foram premiados.